Tocar, sentir, amar


“A pele, como uma roupagem contínua e flexível, envolve-nos por completo. É o mais antigo e sensível de nossos órgãos, nosso primeiro meio de comunicação, nosso mais eficiente protetor” (Montagu, 1988, p. 22).

O tato, assim como, a visão, a audição e o olfato é um dos nossos órgãos dos sentidos, sendo a pele responsável por este sentido. O sistema tátil é o primeiro sistema sensorial a tornar-se funcional no ser humano. Ainda no útero materno, o bebê já responde a estímulos táteis e após o nascimento, principalmente no primeiro ano de vida, é a forma mais importante de comunicação com o bebê.

Ao tocarmos as coisas do nosso ambiente, podemos sentir a temperatura (calor, frio), a textura (liso, áspero), o peso (pesado, leve), a pressão (leve, moderada, forte), a consistência (duro, mole), a umidade, etc. No entanto, as sensações táteis não são apenas importantes para percebermos algumas das características do ambiente. As respostas que damos aos estímulos táteis são necessárias para o desenvolvimento de comportamentos complexos e para a nossa adaptação aos diversos ambientes nos quais vivemos.
 
Um estudo feito com bebês que tinham aproximadamente 2 meses de idade, cujas mães haviam sido ensinadas a acariciar frequentemente as costas dos filhos, mostrou que aos seis meses, esses bebês apresentavam uma incidência menor de gripes, resfriados, vômitos,  diarréias, do que os bebês de outro grupo, cujas mães não tinham sido instruídas a acariciar os bebês. Os resultados deste e de outros estudos mostram que tocar os bebês e também crianças maiores promove mudanças importantes nas estruturas neurológica e imunológica das mesmas.

Os benefícios do contato de pele tornaram-se, ainda, mais evidentes a partir do uso do método “canguru” com bebês prematuros. De acordo com este método, os pais são orientados a carregar seus bebês durante várias horas do dia, mantendo contato direto da pele de um com a do outro, isto é, de pele com pele. Bebês prematuros que foram submetidos a este procedimento apresentaram aceleração no desenvolvimento neuromotor, aumento da lactação e consequente ganho de peso, e um aumento significativo dos comportamentos de apego com os pais.
 
Muitas vezes, ouve-se que segurar e embalar os bebês são atitudes prejudiciais porque  podem torná-los mimados, mas os dados das pesquisas científicas mostram que tocar as crianças de forma positiva é importante para o seu desenvolvimento. Os efeitos benéficos de tocar e ser tocado são muitos e são importantes não só para as crianças, mas também para os jovens, os adultos e fundamentais para os idosos.

Acariciar, massagear, beijar, embalar, segurar e qualquer outro tipo de contato de pele positivo contribuem para o aumento da resistência ao estresse, diminuição do nível de ansiedade, aumento do comportamento exploratório das crianças, além dos efeitos imunológicos e neurológicos citados. Estes efeitos por sua vez afetam de forma positiva o desenvolvimento de habilidades sociais, de habilidades de aprendizagem e o ajustamento sexual, prevenindo o desenvolvimento de comportamentos anti-sociais.


Ser tocado é uma necessidade primária, a qual deve ser satisfeita para que as crianças possam desenvolver-se como seres humanos saudáveis. “E o que é um ser humano saudável?

É aquele que é capaz de amar, trabalhar, brincar e pensar de modo crítico e livre de preconceitos”
(Montagu, 1988, p. 193).

MONTAGU, Ashley. Tocar: o significado humano da pele. 5.ed. São Paulo: Summus, 1988.

Por: Verônica Bender Haydu - Professora da Universidade Estadual de Londrina e Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo

2 comentários:

Sil Motta disse...

Si, texto maravilhoso, parabéns!! Vou indicá-lo, ok? bjssss

Simone Barbosa Pasquini disse...

Oi Sil!!! Q bom q gostou.
Este texto é da Dra. Verônica Bender Haydu, uma psicóloga e professora que tem textos maravilhosos.
Adorei :)
bjkssss