Bullying em atividades esportivas gera jovens depressivos e agressivos

Especialistas explicam o papel dos pais e das escolas na resolução da questão


O esporte nas escolas tem papel de ensinar às crianças habilidades sociais e motoras relevantes. Algumas não têm o perfil atlético para realizarem atividades esportivas na escola. Atualmente, se discute como são afetadas as crianças que não se encontram no padrão. O Globo Educação ouviu especialistas que discutiram os problemas e soluções da questão.
 
Os alunos que não se encaixam no perfil ou não gostam de esportes são excluídos pelos colegas. Costumam ser escolhidos por último para participarem de atividades esportivas. Para Maria Ester Rodrigues, doutora em Psicologia da Educação e professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, essas crianças desenvolvem autoestima e autoconfiança baixas.

“Existem outros prejuízos, de ordem internalizante e de ordem externalizante. Os primeiros são mais sentidos pelo próprio indivíduo, como: sentimentos e pensamentos autodepreciativos, depressão, ansiedade, autoagressão, ideias de suicídio, raiva e revolta. Os demais, frequentemente acompanhados pelos primeiros e sentidos também por terceiros são: agressividade, ataque, depredação e o envolvimento em conflitos com a lei, seja em ataque ao patrimônio, seja em confronto direto com outros indivíduos”, explica Maria Ester.

Ela também acredita que a rejeição ou a exclusão, seja por qual motivo for, faz com que a criança deixe de absorver valores da escola e se identificar com seu ambiente:“A exclusão faz com que a criança não internalize os valores da escola e não se sinta inclusa, deixando de considerar a escola como ambiente no qual possa se inserir e seus valores como passíveis de serem internalizados.”

O bullying afeta a criança da mesma forma que a exclusão, mas de forma mais grave. Para Maria Ester, “Utilizando a metáfora de uma arma, diríamos que tem maior poder ‘letal’”. O mais comum é que estudantes rejeitados e alvo de bullying simplesmente abandonem a escola ou permaneçam apenas de “corpo presente”. Em último caso, podem passam a atacar a escola e seus componentes com pichações, depredações, ameaças de agressão e agressões propriamente dita, chegando a atitudes extremas. “A chacina na escola Tasso da Silveira, em Realengo, é um exemplo disso”, diz Maria Ester.

Mais tarde, na adolescência, as crianças rejeitadas adquirem forte probabilidade de se engajarem em grupos antissociais. Segundo Maria Ester, “Os grupos antissociais são, normalmente, compostos de adolescentes com história semelhante à sua. A inserção nesses grupos contribui fortemente para o aumento da delinquência e abuso de substâncias, como o álcool e outras drogas, na adolescência, além do envolvimento em conflitos com a lei.”

Soluções

Segundo Maria Ester, para ajudar a resolver o problema, deveriam existir mais programas de socialização nas escolas. “Existem poucos programas de desenvolvimento de habilidade sociais em escolas ou mesmo programas de atendimento psicológico de caráter preventivo em instituições de ensino no Brasil. Isso poderia ser promovido com mais frequência”, diz.

Ela também defende que a atividade física deve ser repensada, no caso de a criança não possuir características favoráveis para realizá-la. Afirma: “A atividade esportiva escolhida pela escola deve ser redimensionada. Deve-se enfatizar o caráter lúdico da atividade esportiva em detrimento do competitivo.”

Cristina Montenegro, especialista em Psicologia Clínica, também acredita que deve haver um leque maior de atividades disponíveis nas escolas. “Talvez a aluna que não seja boa em voleibol, tenha ótimo desempenho em ginástica rítmica. Atualmente, não se leva em conta a heterogeneidade corpórea dos indivíduos. As atividades não abrangem tipos diferentes de corpos.”


Os pais tem papel muito importante na resolução do problema. Maria Ester afirma: “Pais que detectam rejeição do filho em ambiente escolar devem procurar a escola para juntos encontrarem uma solução”.

Ela também defende que a grande função dos pais nesse contexto é prover afeto aos filhos. “A escola também é um ambiente afetivo, especialmente para crianças pequenas. O afeto fornecido pela família não pode ser substituído por professores e colegas. Usualmente se fala no necessário estabelecimento de limites, mas esquece-se que esses limites devem ser fornecidos com afeto. As características dos pais, as práticas educativas positivas bem com a organização do ambiente familiar interferem enormemente no desenvolvimento das crianças”, diz ela.

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