"Jovens ansiosos, deprimidos, hiperativos, com características de grande busca por novidade e, com dificuldades de evitar riscos, estão em maior risco de consumo regular e pesado de bebidas em idade precoce"
Segundo dados do I Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil realizado em 2001, 48,3% dos jovens de 12-17 anos já fizeram uso na vida de álcool, ao passo que esse número atinge 73,2% dos jovens de 18-24 anos. Segundo o mesmo estudo, 5,2% e 15,5 % dos jovens de 12-17 anos e 18-24 anos, respectivamente, são dependentes de álcool.
No ano de 2005, com a realização do II Levantamento Domiciliar no Brasil, os autores constataram que o uso de álcool por jovens de 12-17 anos e de 18-24 anos foi de, respectivamente, 54,3% e 78,6% ao passo que a dependência dessa substância nesses mesmos grupos etários foi de 7,0% e de 19,2%, respectivamente.
Além do consumo de bebidas alcoólicas ser cada vez mais precoce, tem-se reconhecido que muitos adolescentes que bebem costumam beber pesadamente, comumente ingerindo cerca de 70 gramas de álcool (equivalem a umas 5 latas de cerveja) ou mais por ocasião de consumo de bebida.
Embora a diferença entre os gêneros tenha se mantido, com jovens do gênero masculino consumindo mais frequentemente e pesadamente álcool do que as do gênero feminino, essa disparidade tem se tornado cada vez menor.
Garotos e garotas têm as mesmas motivações para beber
De fato, algumas evidências apontam que os motivos atribuídos pelos jovens de ambos os gêneros para consumir bebidas alcoólicas têm sido muito parecidos.
- Pressão de pares;
- Necessidade de perder as inibições e aproveitar mais o tempo;
- Vontade de ficar “alto”.
Essas são as três principais razões entre homens e mulheres jovens para fazer uso de bebidas. Também, correntemente jovens de ambos os gêneros frequentam os mesmos ambientes, são menos sujeitos às críticas devido a comportamentos relacionados ao beber, sustentam crenças mais liberais e assumem plena igualdade de posições.
Ser adolescente é um fator de risco
À medida que as crianças se desenvolvem para a fase da adolescência, múltiplas modificações físicas, psicológicas e de estilo de vida acontecem. Transições no desenvolvimento têm sido associadas com o recrudescimento ou mesmo início do consumo de álcool, o que também tem sido visto na transição para a terceira idade. De qualquer forma, simplesmente o fato de ser um adolescente, pode ser considerado um fator de risco estático tanto para o início do consumo de bebidas alcoólicas quanto para o consumo pesado delas.
Principais fatores relacionados à experimentação precoce de bebidas alcoólicas:
1º) Tomada de risco
As conexões cerebrais estão em contínuo desenvolvimento nessa fase da vida, e a busca por estímulos ou sensações tem sido associada com esse fato. Para alguns adolescentes, a busca intensa por excitação ou estímulos pode incluir a experimentação de bebidas alcoólicas e as atividades associadas com esse uso. Segundo pesquisas populacionais, quanto mais precoce é o consumo regular de bebidas alcoólicas, mais cedo é o início da vida sexual, menor é o tempo dedicado aos estudos, e mais frequente é a experimentação de outras substâncias. Modificações no desenvolvimento físico, incluindo hormonais e cerebrais, podem estar relacionadas com o comportamento muitas vezes impulsivo de adolescentes.
2º) Expectativas
O modo como as pessoas enxergam o consumo de bebidas alcoólicas e seus efeitos influencia o padrão de uso. Um adolescente que espera que, ao beber, sinta-se mais descontraído, sociável, desejável em determinado grupo, fará o uso. Crenças sobre o álcool e seus efeitos são estabelecidas antes mesmo da adolescência. Comumente, antes dos 9 anos de idade, a criança tem crenças negativas a respeito do uso de bebidas; entretanto, depois dos 12 anos essas crenças mudam.
3º) Sensibilidade e tolerância ao álcool
Diferenças entre o cérebro de um adulto e de um adolescente podem explicar, pelo menos parcialmente, porque jovens conseguem consumir doses bastante altas de bebidas alcoólicas quando comparado a adultos. Também, experiências novas, influência de pares, expectativas positivas diante desse uso colaboram intensamente para o desenvolvimento de tolerância;
4º) Características de personalidade e presença de transtornos mentais
Jovens ansiosos, deprimidos, hiperativos, com características de grande busca por novidade e, com dificuldades de evitar riscos, estão em maior risco de consumo regular e pesado de bebidas em idade precoce;
5º) Fatores hereditários
Ser filho de alcoolista ou ter vários membros familiares portadores de alcoolismo coloca os jovens em maior risco de desenvolver problemas com o uso de bebidas. Filhos de alcoolistas têm risco de 4 a 10 vezes maior para manifestarem problemas com o uso de bebidas, quando comparados a jovens sem antecedentes familiares de problemas com o consumo de álcool. Também, mais recentemente, alguns genes têm sido relacionados com o desenvolvimento do alcoolismo e de comportamentos nocivos relacionados ao consumo de bebidas;
6º) Influência ambiental
Certamente, fatores genéticos sozinhos não explicam o desenvolvimento do comportamento nocivo em relação ao álcool. Influência dos colegas ou pares e pais que mantêm uma visão positiva sobre o consumo de bebidas influenciarão o uso de álcool pelos filhos.
Fonte Uol
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