Viver é aprender


“Viver é aprender” é um ditado popular que sabiamente descreve a importância que a
aprendizagem tem para a nossa vida. No meu texto anterior, eu escrevi que “viver é envelhecer” e vocês podem estar se perguntando, mas viver é envelhecer ou é aprender? Na verdade, podemos fazer uma brincadeira com estas palavras e podemos dizer “viver é
envelhecer”, “viver é aprender”, “envelhecer é viver” e “aprender é viver”. Todas estas afirmações frisam a importância que as experiências vivenciadas têm para o ser humano. Viver bem leva a crescer e a envelhecer bem!
 
Dorothy Law Nolte descreveu muito bem e em poucas palavras o efeito das experiências na formação do que podemos chamar de caráter de uma pessoa. Preciso deixar claro que estou usando a palavra caráter, não como uma característica inata do ser humano, mas como um conjunto de atitudes e formas de agir que uma pessoa apresenta como seu padrão de comportamento, o qual é aprendido.

Crianças aprendem com a experiência
 
Se a criança convive com a censura,
ela aprende a condenar.
Se a criança convive com a hostilidade,
ela aprende a brigar.
Se a criança convive com o escárnio,
ela aprende a ser tímida.
Se a criança convive com a vergonha,
ela aprende a sentir-se culpada.

Se a criança convive com a tolerância,
ela aprende a ser paciente.

Se a criança convive com o encorajamento,
ela aprende a ser confiante.

Se a criança convive com o elogio,
ela aprende a apreciar.

Se a criança convive com a integridade,
ela aprende a justiça.

Se a criança convive com a segurança,
ela aprende a ter fé.

Se a criança convive com a aprovação,
ela aprende a gostar de si mesma.
Se a criança convive com a aceitação e a amizade,
ela aprende a encontrar amor no mundo.

Dorothy Law Nolte
 
Eu completaria acrescentando que Se a criança convive com a mentira, ela aprende a mentir.
 
É muito comum, os pais se espantarem quando subitamente as crianças começam a se comportar como eles próprios fazem. Muitas vezes, nem sequer percebem que eles é que estão dando o exemplo e se perguntam por que seus filhos estão agindo daquela maneira.
A censura, a hostilidade e o escárnio (avacalhação, gozação, chacota) são formas de coerção e de violência e como já citei anteriormente “a violência gera violência”, além de fazer uma criança sentir vergonha. A mentira, que eu inclui por minha conta, é um tópico que merece consideração à parte, dada a importância que esse comportamento tem para a formação do caráter das pessoas.
Vocês devem estar pensando, lá vem aquele papo de psicólogo que acha que a gente pode educar os filhos sem dar uma boa surra ou puxões de orelha quando eles merecem. Não, eu não vou defender a educação do laisse-fair, de acordo com a qual as crianças podem fazer o que querem e devem aprender por si como lidar com as adversidades que a sociedade lhes impõem.
As crianças devem ser corrigidas e orientadas sobre como agir, mas essa correção não deve ser feita com o rigor da punição física. Regras devem ser colocadas e deve haver monitoramento no seu cumprimento. Só que, se os pais estabelecerem regras e eles mesmos não as obedecerem, os filhos, devido à possibilidade de serem punidos na frente dos pais, poderão seguí-las somente quando estes estiverem presentes. Um filho que é coagido a se comportar de determinada forma pode ter um bom comportamento somente na presença dos pais. Além disso, as crianças imitam os mais velhos o tempo todo. A imitação é uma importante e poderosa forma de aprendizagem. Assim como, ocorre a aprendizagem de comportamentos relevantes e apropriados, também são aprendidos comportamentos inapropriados. Basta que um adulto ou até mesmo outra criança dê o exemplo.
 
Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço; é p ditado da hipocrisia, que certamente não funciona como regra para educar os filhos.

Considerando o que relatei, posso concluir, como fez a psicóloga Drª. Paula Inez C.Gomide em seu livro Pais presentes, pais ausentes: regras e limites”, que apresentar modelos morais de convivência social é fundamental para uma boa educação. “Valores como honestidade, amizade, respeito ao próximo, respeito às leis, empatia, enfim, todos aqueles que formam um cidadão devem ser foco da educação. As crianças devem ter oportunidade para experienciar estes valores”.

Aproveito este espaço para parabenizar publicamente a Drª. Paula, grande amiga e colega de turma no curso de Psicologia da UEL, por ter sido nomeada, recentemente, para compor a Comissão Nacional da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil. Excepcionalmente, a OAB convida membros não advogados para participarem de suas comissões, por considerar que determinadas áreas necessitam de outros especialistas, além de advogados.
Gomide, Paula I. C. Pais presentes, pais ausentes: regras e limites. Petrópolis: Ed. Vozes, 2004.

Verônica Bender Haydu -
Professora da Universidade Estadual de Londrina, Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo
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