O final do ano está chegando. Com ele se intensificam
a pressão por boas notas e o nível de estresse em casa; especialmente nos casos
onde a criança não teve um bom rendimento no decorrer do ano letivo e está
correndo risco de não passar. Muitos pais encontram-se totalmente sem saber o
que fazer diante das notas baixas e possível desinteresse do filho pela escola.
Alguns me procuraram via e-mail e pessoalmente, perguntado se existem algumas
dicas que, de algum modo, possam contribuir para um melhor acompanhamento do
filho. Não existem fórmulas: cada criança é uma criança. Existem, no entanto,
alguns pontos podem contribuir para a melhor manutenção da relação pai X filho.
Zoega, Souza e Marinho (2004) apresentam 14 destes pontos. Neste texto eu
discuto cada dos pontos apresentados por eles, no entanto, da maneira como acho
mais adequada a demanda que me vem sendo apresentada. Peço lincença aos autores
(ZOEGA, SOUZA e MARINHO, 2004) para usar a idéia deles.
Seguem as
dicas:
1º – Tornar
explícitos os direitos e deveres do filho: desde pequenas, as crianças devem
aprender que direitos e deveres andam sempre juntos. Uns não existem sem os
outros.
Existem
direitos que, pelo simples fato de existir, toda criança tem – como por exemplo,
o amor e cuidado dos pais. Outros, no entanto, devem ser conquistados à medida
em que alguns deveres são cumpridos. Caso a criança não cumpra seu dever, ela
perde um direito específico (daqueles conquistados), o qual deve ter sido
acertado anteriormente. Por exemplo, os pais estabelecem que a criança deve
fazer a tarefa de casa e, somente após isto, ela poderá assistir TV, jogar
video-game, etc. Caso a criança não cumpra o dever combinado, ela não poderá,
sob nenhuma condição ter acesso a seu direito de jogar video game, ver TV, etc.
2º –
Estabelecer uma rotina organizada: rotina refere-se à definição clara e precisa
do horário para a realização de cada atividade.
É importante
que os pais conheçam a quantidade e tipo de tarefas da criança para que possam
organizar de maneira funcional a sua rotina. Estas informações devem ser
coletadas com a própria criança e também com seus professores (é importante o
contato frequente dos pais com os professores). Quanto maior a clareza e
quantidade de dados os pais tiverem a respeito do que a criança precisa fazer,
mais fácil fica para organizar a rotina dela.
Os horários
para cada tipo de atividade (estudar, jogar, comer, etc) devem ser
estabelecidos e seguidos de maneira clara – hora certa pra brincar, pra comer,
pra estudar, etc. Os estudos devem sempre ocupar status de prioridade – os
primeiros da lista, o que diminui as chances da criança estar cansada quando
for estudar. É interessante que os horários sejam combinados com a criança,
respeitando suas preferências.
É interessante
que os pais estabeleçam e sigam uma rotina também para sí. As crianças aprendem
com muito mais facilidade através da observação.
Ambas as
rotinas podem ser organizadas em um cartaz para consulta sempre que necessário,
o qual deve ser fixado em algum cômodo da casa.
3º –
Estabelecer limites.
Existem
pesquisas que mostram que maioria dos jovens infratores são oriundos de lares
onde: 1) ou a disciplina é relaxada – isto é, os pais relativizam as regras,
não colocam limites; ou 2) os pais são autoritários e agressivos (GOMIDE,
2006). Para viverem em sociedade, no entanto, as crianças devem aprender que
existem regras a serem cumpridas – e este aprendizado começa em casa, no
respeito às regras estabelecidas pelos pais. A criança deve aprender, então,
que a última palavra é sempre dos pais. Os pais não podem, sob hipótese alguma,
permitir que a criança assuma o controle das regras da casa.
4º –
Supervisionar Atividades.
Quanto mais
jovem a criança, maior a necessidade de supervisão de suas atividades. Existem
pesquisas que apontam, inclusive, que o progresso na aprendizagem escolar está
diretamente ligado a supervisão e organização das tarefas do lar (MATURANA,
citado por ZOEGA, SOUZA E MARINHO, 2004). Os pais devem tomar cuidado, no
entanto, para não fazerem a tarefa pela criança – sob pena de ensiná-la a
delegar suas próprias obrigações a outros, esquivando-se delas.
Este
acompanhamento consiste em verificar se a criança cumpre seus horários, se ela
realmente faz o que se propôs a fazer, etc.
5º – Dosar
Adequadamente a Proteção e Incentivo à Independência.
Tarefa
difícil: como saber o quanto uma criança pode ser independente e o quanto os
pais ainda precisam tomar as atitudes por ela e protegê-la? A independência
deve ser incentivada aos poucos, à medida em que a criança mostra-se capaz. Se
os pais não permitem que a criança se exponha a certos desafios, ela jamais vai
aprender a lidar com eles.
6º – Prover um
ambiente com recursos e instrumentos para estudar.
O ambiente
adequado para estudo envolve ausência ou quantidade mínima de ruídos, distrações,
arejado, iluminado e arejado. O estado físico também é relevante. Se a criança
encontra-se cansada, estressada, com sono, com fome, com medo, mais
dificilmente aprenderá a matéria e o gosto pelos estudos.
7º -
Estabelecer Interações Positivas.
Os castigo é
uma estratégia muito usada pelos pais para que uma criança não volte a
apresentar um comportamento indesejado. Existem, no entanto, dois aspectos que
precisam ser mencionados: 1) fazer com que a criança deixe de se comportar de
maneira adequada, não a leva, necessariamente, a aprender a comportar-se de
maneira adequada; 2) castigos e punições, em geral, funcionam durante um curto
período de tempo. Os pais sabem que, muitas vezes, uma criança volta a
apresentar um comportamento punido em uma situação posterior (o que não sabem,
é que a probabilidade dela apresentar este comportamento é maior na ausência
dos pais – agentes punitivos).
Deste modo,
fica claro que castigos e punições não contribuem para a aprendizagem do
comportamento adequado por parte da criança (p.e.: bater nela por que ela está
jogando video game ao invés de estudar não necessariamente faz com que ela faça
de fato a atividade de casa, ela pode simplesmente fingir que fez para voltar a
jogar). Além do mais, fazer com que a criança associe estudar com situações ou
coisas desagradáveis pode, a longo prazo, fazer com que ela tenha pouco ou
nenhum interesse pelos estudos.
É importante
que os pais estabeleçam condições que propiciem – reforçem, no sentido de
tornar “agradável” para a criança – comportar-se da maneira adequada. Marinho
(citado por ZOEGA, SOUZA E MARINHO, 2004) explica que maneiras interessantes de
criar estas condições, envolvem acompanhar a criança nos estudos e apresentar
recompensas imediadas ao estudar (p.e.: muito bom te ver estudando e poder te
ajudar); descrever o comportamento que está sendo reforçado (p.e.: se a criança
capricha em alguma coisa, dizer algo como “muito bom, parabéns pela dedicação);
enfim, consequências que tornem o estudo algo agradável. Todo o bom desempenho
da criança deve ser elogiado e/ou gratificado, de maneira sincera, o que
aumenta as chances de que a criança aprenda a gostar daquilo.
É também
necessário que os pais entendam que a princípio, não há como uma criança que
não gosta de estudar começar a gostar de repente. É preciso “construir o gosto”
dela pelos estudos. Ela dificilmente irá gostar naturalmente de estudar.
Consequências a longo prazo, como formar-se e ganhar dinheiro, não tem tanto
poder sobre um comportamento da criança como consequências imediatas, como
ganhar pontos em um jogo de video-game. É mais eficaz se, diante de um elogio
feito aos pais por um professor ou uma boa nota em uma prova, os pais
convidarem a criança para fazer algo que ela goste e não seja costume da família,
especificando por que é que ela está sendo convidada para isto (p.e.: legal,
gostei de sua nota. Vamos ao cinema para comemorar?).
Quando se
trata de elogio, no entanto, um cuidado deve ser tomado: não é aconselhável que
se faça uma crítica ou desafio junto ao elogio. Por exemplo, “gostei de sua
nota, mas vamos ver se melhora, tá?”. Isto é um elogio seguido de
crítica/desafio, o que desvaloriza a nota alta da criança. Fica a sensação de
que o pai nunca está satisfeito. Os pais devem procurar ressaltar sempre os
aspectos positivos do comportamento da criança e, na medida do possível, não
punir aspectos negativos. Por exemplo, um boletim com notas variando entre 10 e
6. É mais proveitoso que, ao invés de punirem a nota 6, os pais elogiem as
notas mais altas, como o 10, ou o 9.
Quando o pai
vai falar para a criança de sua evolução, é necessário muito cuidado também
para não compará-la a outras crianças. A comparação deve sempre ser feita com
ela própria, mostrando seus resultados anteriores e os atuais. Se por acaso o
rendimento tiver caído, é melhor não comparar.
8º –
demonstrar afeto.
A disciplina e
estabelecimento de limites e regras só são efetivos quando os pais demonstram
afeto pelos filhos (ZOEGA, SOUZA E MARINHO, 2004). O afeto pode ser demonstrado
através da organização de um tempo para passar com os filhos, fazendo junto a
eles coisas que eles gostam e sintam prazer em fazer. É importante também que
os pais demonstrem que gostam da criança independente dela obter ou não sucesso
na escola. O amor deve ser incondicional.
9º – modelo
adequado de envolvimento com as atividades.
A criança
aprende de maneira mais eficaz quando ela vê alguém fazendo do que quando ela
ouve que deve fazer. E para que ela aprenda, aquele comportamento observado
deve ser consequenciado com reforço (conforme explicado no tópico 7).
Se os pais
demonstram envolvimento e responsabilidade pelos estudos e/ou trabalho, mais
provavelmente a criança também apresentará. Se eles apresentam gosto pela
leitura e demonstram isto para a criança, mais provavelmente ela mais
provavelmente apresentará também.
10º – promover
diálogo.
Os pais devem
ter disponibilidade para ouvir a criança, cuidando para não transformar estes
momentos em monólogos onde eles apenas a questionam. Existem inúmeras pesquisas
que demonstram que correlação negativa entre confiança da criança nos pais e
envolvimento em atividades ilegais (GOMIDE, 2006).
11º –
apresentar nível de exigência compatível com o desenvolvimento da criança.
De nada
adianta cobrar da criança um desempenho o qual ela não possui condições de
obter. Isto gera estresse e frustração nos pais e na criança.
12º –
relacionar o teórico com a prática.
Quando os pais
valorizam o que a criança aprende e conseguem relacionar aquilo com suas
experiências o interesse e aprendizagem da criança são mais efetivos.
13º –
incentivar o brincar e a socialização.
A criança que
brinca tem um melhor desenvolvimento cognitivo, emocional e social. O dia da
criança não pode se transformar em um fazer tarefas contínuo, devem existir
momentos para a diversão – muitos momentos.
14º –
Interessar-se pela vida do filho.
Os pais devem
demonstrar interesse pela vida de seu filho em TODOS os momentos, não apenas
quando este apresenta bons resultados. É importante que os pais participem das
atividades que a escola do filho promove, acompanhe-o em situações onde ele
gostaria de ser acompanhado, etc...
Referências:
Gomide, P. I.
C. (2006). Inventário de Estilos Parentais. Modelo teórico: manual de
aplicação, apuração e interpretação. Petrópolis: Vozes.
Zoega, M. R.
S; Souza, S. R; Marinho, M.L. (2004). Envolvimento dos pais: incentivo a
habilidade de estudo em crianças. Campinas: Estudos em Psicologia.
Por: Esequias Caetano de Almeida Neto
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