Este texto foi
originado após uma pergunta feita por alguns pais que escolheram a Terapia ABA
como o principal elemento do tratamento dos seus filhos diagnosticados com
Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, às vezes chamado de Transtorno do
Espectro Autista, às vezes simplesmente autismo.
Esses pais
perguntaram “Por que alguém não escreve um texto mostrando como a Terapia ABA é
humana?” É um questionamento que deixa duas perguntas constrangedoras
implícitas. Alguém, então, pensa que uma Terapia focada no desenvolvimento
integral de seres humanos pode ser outra coisa senão humana? A resposta é “sim”
e continua mais triste “e são outros profissionais que dizem isso”. Mas a
pergunta implícita mais constrangedora é “esses profissionais, e alguns pais
que acreditam neles, acreditam que os aplicadores de Terapia ABA e as famílias
que a escolhem aceitam práticas não-humanas para seus filhos…?”
Este texto,
pensando nas questões acima, faz uma descrição diferente da Terapia ABA. Não
tem a intenção de criticar profissionais ou abordagens. O texto é tão somente
para mostrar alguns porquês da Terapia ABA sob o ponto de vista da sua base
humanista. Ele é necessário porque, além de terapeutas, os profissionais ABA
são cientistas. Este fato maravilhoso teve dois efeitos colaterais
imprevisíveis. O primeiro é que os conceitos ABA têm nomes “duros”, ao
contrário de suas práticas. O segundo é que os textos explicativos falam muito
dos porquês científicos da Terapia ABA e pouco das razões humanas. É tempo de
mostrar três delas.
A razão mais
humana que justifica a Terapia ABA é: ela funciona, e funciona bem! Isso
acontece porque os terapeutas estão o tempo todo debruçados sobre o seu próprio
trabalho, avaliando, criticando, melhorando. Não só realizaram centenas de
pesquisas para ter a certeza de que ABA funciona, mas também analisam
minuciosamente o trabalho realizado com cada um dos seus clientes. Todos os
passos do tratamento são registrados e constantemente avaliados, permitindo
melhorar tudo que está dando certo e consertar o que está dando errado. É muito
difícil falhar, já que os erros são corrigidos. Se um terapeuta ABA não acerta
na primeira, tenta a segunda, a terceira, e continua tentando até conseguir: e
consegue! O resultado disso é que cada pessoa recebe uma Terapia ABA
particular. Os conceitos e princípios básicos são os mesmos para todos, mas a
forma de aplicação e o modo de trabalho do terapeuta são especiais e exclusivos
para cada um dos clientes.
Os terapeutas
ABA sabem que todas as pessoas têm capacidade de aprender. Eles têm razão, pois
fazem a aprendizagem acontecer não importa quão difícil o ensino seja. Algumas
pessoas, como aquelas diagnosticadas com autismo, precisam de atenção adicional
para aprender, mas o fazem plenamente quando motivados. Confiar no potencial de
todas as pessoas faz com que os terapeutas ABA se sintam, desde sua formação,
responsáveis pela evolução dos seus clientes. Um bom profissional ABA jamais
dirá “esta criança não consegue aprender” sobre um cliente com dificuldades
para realizar as tarefas propostas; ele dirá “esta criança está certa: meu
método de ensino não está adequado e devo modificá-lo”. As intensas
auto-exigência e responsabilidade dos terapeutas, derivadas da crença na
capacidade do outro, é a segunda razão mais humana que embasa a Terapia ABA.
É comum ouvir
críticas de que a Terapia ABA não respeita o ritmo e o tempo das pessoas. A
verdade é o oposto disso: respeitar é o que se faz o tempo todo. Respeita-se,
principalmente, o direito das pessoas de conhecer o mundo e de se relacionar
com seus pares. Para isso, é preciso aprender coisas que nem sempre são
prazerosas à primeira vista, mas se mostram incrivelmente interessantes no
segundo contato. Sabendo dessa verdade indiscutível, a Terapia ABA usa duas
estratégias infalíveis para ensinar. Torna até mesmo o conhecimento mais chato
o mais interessante do mundo e evita que os clientes errem. Isso mesmo, eles
sempre acertam e são intensamente elogiados toda vez que o fazem. Essas
estratégias só são possíveis porque o ritmo e o tempo de cada um são
respeitados. Algo deve ficar claro, as pessoas diagnosticadas com autismo são
iguais a todos os seres humanos: estão sempre prontas para ir mais longe.
Grande parte do esforço dos terapeutas ABA é mostrar a seus clientes o quanto
aprender é prazeroso e importante. A terceira razão humana que direciona a
Terapia ABA, portanto, é o seu respeito ao direito das pessoas de continuarem
aprendendo sobre o mundo e sobre seus pares; cada um no seu ritmo, mas sempre
mais.
Não se pode
afirmar que a Terapia ABA é mais efetiva para lidar com o Transtorno do
Espectro Autista, mas é correto afirmar que ela tem o maior corpo de
conhecimento e o maior número de pesquisas mostrando sua eficácia. É uma pena,
portanto, que as bases humanas da Terapia ABA descritas acima não sejam
conhecidas por todos os pais e profissionais que lidam com indivíduos
diagnosticados com autismo. É uma pena que escolhas sejam feitas sem que as
terapias sejam devidamente conhecidas. Espera-se que este texto ajude os pais a
tomarem decisões sobre o futuro dos seus filhos não com base na falsa ideia de
que há terapias humanas e não-humanas, mas sim baseados em suas preferências de
método de trabalho e na análise da eficiência de cada um deles.
O autor Robson
Faggiani (robsonfaggiani@gmail.com) é psicólogo e mestre em Psicologia
Experimental; especializou-se no atendimento de adultos típicos e de pessoas
diagnosticadas com autismo. Atualmente, realiza doutorado na Universidade de
São Paulo. Robson viaja por todo o Brasil dando consultoria para famílias
que têm filhos diagnosticados com autismo e treinando equipes para realizar o
tratamento baseado em ABA.
Fonte: Psicologia e
Ciencia
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