Problemas de articulação da
fala costumam aparecer entre 2 e 4 anos de idade e são mais frequentes em
meninos; o tratamento deve ser iniciado ainda na idade pré-escolar
A mãe de Pablo mostra-se angustiada durante a
consulta. Já faz um mês que seu filho de 3 anos repete sílabas e bloqueia sons
ao falar. Ao ver seu esforço para se expressar, ela tenta ajudá-lo orientando-o
a não ficar nervoso e a falar bem devagar – o que não tem efeito. Há dias em
que Pablo gagueja e outros em que fala sem nenhuma dificuldade. Na última
semana, no entanto, o problema se agravou em algumas ocasiões, o menino chega a
fazer gestos de esforço para parar de tropeçar nas palavras. A mãe receia que a
gagueira se torne permanente.
Problemas de articulação da fala costumam aparecer
entre os 2 e 4 anos. Nesse período, os pequenos começam a formar frases maiores
e mais elaboradas e ocorre a aquisição de habilidades complexas e necessárias
para organizar a linguagem e utilizá-la em situações sociais. É normal
esquecer-se de algumas palavras, não apresentar total fluência na fala e
demonstrar insegurança ao se expressar.
Como descrito pela mãe de Pablo, uma das
características da gagueira é a oscilação: ela não se apresenta em todas as
ocasiões e sua intensidade varia. Na maioria dos casos, os bloqueios
desaparecem, por exemplo, quando a criança canta, pois estão relacionados ao
momento da comunicação – como alguma situação na qual o pequeno se sinta
intimidado, seja por uma atitude pouco receptiva do interlocutor ou pela emoção
que sente em relação ao tema. Fatores como a pressão dos pais ou professores
para “falar corretamente”, corrigindo ou mesmo recompensando quando a criança
se expressa com fluência, podem piorar o problema.
Diagnóstico e tratamento
A gagueira tende a desaparecer espontaneamente
ainda durante a infância. Entretanto, em uma minoria dos casos, ela pode se
estabelecer e perdurar pela adolescência e idade adulta. É comum que a falta de
fluência na fala acentue a timidez ou faça com que a pessoa deixe de se
expressar para evitar a vergonha de tropeçar nas sílabas e passe a manifestar
movimentos corporais involuntários relacionados à tensão e ao esforço para
falar.
Até há pouco tempo, a abordagem de especialistas para casos como o de Pablo era aconselhar os pais a esperar. O tratamento costumava ser indicado apenas se o problema persistia após a idade pré-escolar. No entanto, segundo estudo conduzido por mais de 20 anos, a intervenção deve vir, de preferência, antes dos 4 anos, para evitar que a gagueira se estabeleça e ocasione transtornos secundários como ansiedade ou sentimentos negativos em relação à comunicação e à convivência social, prejudicando a autoestima.
A pesquisa não identificou uma causa específica da
gagueira, porém foram identificados fatores que podem desencadeá-la, como
histórico familiar – cerca de 60% das pessoas com o problema têm parentes
gagos. Além disso, é três vezes mais frequente em meninos. Observou-se alto
índice de recuperação em casos em que o tratamento foi iniciado antes que as
repetições e os tropeços na fala completassem um ano. Ao perceber os sinais
descritos, é aconselhável que os pais procurem um fonoaudiólogo ou psicólogo.
Estes profissionais avaliarão o grau de dificuldade da criança em expressar-se
e se há fatores ambientais, sociais e psicológicos associados ao problema.
A mãe de Pablo foi orientada a ajudar o filho com
atitudes simples, como falar de forma clara com a criança e dar tempo para que
ele organize suas palavras. Foi instruída também a evitar fazer recomendações e
a conversar um pouco mais devagar, articulando bem as palavras, para oferecer
um modelo lento de fala, com pausas, que possa ser imitado. Essas pequenas
mudanças são, em geral, muito eficazes para deixar os pequenos mais tranquilos
e conseguir que eles se expressem com mais fluência.
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