Na era de videogame e outros
jogos e brincadeiras tecnológicas, é comum constatar que brincadeiras do tempo
de pais e avós têm caído no esquecimento.
No entanto, como aponta o estudo Brinquedos, brincadeiras e
cantigas de roda: como brincavam nossos pais e
avós, resgatar essa cultura é um rico exercício, pois
possibilita às crianças conhecer e vivenciar novas experiências, além de uma
reflexão empática de como brincavam as infâncias de outrora.
Ao abordar e praticar as brincadeiras dos tempos dos pais e
avós, amplia-se o repertório lúdico desses jovens. Além disso, neste
processo de investigação, isto é, quando as crianças perguntam para seus
familiares como brincavam, onde e com quais pessoas, ocorrem trocas férteis e
aproximação entre as diferentes gerações por meio da valorização da
experiência do outro.
Nesta perspectiva, o Centro de Referências em Educação
Integral selecionou algumas práticas tradicionais que podem promover
diálogos intergeracionais e, claro, entreter as crianças.
Cantigas de roda
As cantigas de roda brasileiras têm grande influência das culturas
africanas, indígenas e europeia e fazem parte do folclore do País.
Transmitidas de geração em geração, revelam muito sobre a cultura local,
misturando tradição oral ao brincar.
Em cantigas de rodas, as crianças dão as mãos, cantam juntas diversas
músicas, que normalmente brincam com os nomes de quem está na ciranda. Além
disso, costumam vir acompanhadas de coreografias, o que estimula a sintonia
entre os pares, que precisam mover-se ao mesmo tempo, fazendo os gestos em
sintonia.
Dentre as cantigas mais conhecidas, estão Escravos de Jó, Atirei o
pau no gato, O cravo e a rosa, Sapo Cururu e a tradicional Ciranda,
cirandinha.
Pião
Com o pião em mãos, enrole o barbante ao redor do brinquedo, de cima a
baixo, e segure uma ponta. A ideia agora é lançar o pião com um movimento
similar ao de chicotear, ainda segurando uma das pontas, para fazê-lo deslizar
pela corda e rodar assim que a ponta de ferro bater no chão.
Se não der certo de primeira, não se frustre, esta brincadeira requer
certa habilidade. Os mais velhos também podem entrar em ação para ensinar os
macetes que facilitam fazer o pião rodopiar. E quando as crianças pegarem
o jeito, pode-se desenhar um círculo no chão e desafiá-las a lançar o pião
dentro da área delimitada.
Pular corda
Muito utilizada em coletivos de teatro para estimular e
praticar o ritmo e a sintonia entre todos, pular corda em grupo é uma
atividade que exige prestar atenção no outro. Como essa brincadeira pode
vir acompanhada de muitas canções, a comunicação entre os pequenos também tem
papel relevante.
Com uma corda longa e três crianças ou mais, a brincadeira ganha
forma. Em cada ponta, fica uma criança responsável por bater a corda em
sincronia. Outra fica no meio e pode pular a corda de frente ou de lado para
uma das pontas. Também é possível pularem duas ou mais pessoas juntas, em
um pé só, e que elas tentem entrar no meio da corda para pular depois de
ter começado a girar.
Esta brincadeira também pode ser realizada individualmente,
de diversas maneiras: com um pé após o outro ou os dois juntos, e
aumentando a velocidade. Vale contar qual o máximo de pulos feitos sem errar, e
se desafiar a superar essa contagem.
Se quiser dificultar, pode-se pular a corda alternando entre um pulo
normal e um cruzado. Quando os braços estiverem em sua frente, cruze a corda e
tente passar as pernas pelo laço inferior, e descruze ao passar pela altura da
cabeça, pulando a corda do jeito tradicional.
E para acompanhar os pulos, existem diversas músicas que podem ser
cantadas junto.
Bolinha de gude
As bolinhas de gude permitem diversas brincadeiras. A maneira
tradicional é uma competição em que uma criança acerta a bolinha do adversário
para tentar capturá-la para si.
Conforme o combinado entre as crianças, as bolinhas podem ser devolvidas
ao final da partida, mas tudo varia de acordo com a capacidade de negociação
entre os pares e o autoconhecimento dos pequenos para saber o que
preferem, e se são capazes de lidar com as perdas.
Para dificultar a atividade, pode-se criar uma espécie de
arena no chão, em formato triangular ou circular, colocando no centro três
bolinhas de cada participante. As crianças têm que acertar as bolas partindo de
fora da arena. Se alguém não acertar nenhuma bolinha, perde a vez. E se
ela ficar presa dentro da área delimitada, também perde a bolinha.
Outras maneiras de brincar com as bolinhas de gude envolvem completar
circuitos desenhados ou acertar latas e outros objetos posicionados no chão.
Para lançar as bolinhas, vale atenção à posição dos dedos. O indicador
deve envolver a bolinha em formato de gancho, e o polegar serve para dar o
impulso que vai lançar a bola. Os pais e avós também podem mostrar como jogavam
e qual era a sua melhor técnica para fazer a bolinha atingir um alvo.
Rodar pneu de
bicicleta ou bambolê com um pauzinho
Esta brincadeira funciona melhor em espaços abertos, em que a
criança pode correr. Basta um pneu de bicicleta ou um bambolê posicionado na
vertical e uma vareta, galho ou pauzinho para conduzi-lo.
O objetivo é conseguir percorrer a maior distância, ou por mais
tempo, sem derrubar o pneu ou bambolê. Para dinamizar a atividade, pode-se
criar uma pista de obstáculos e linhas de partida e chegada.
Amarelinha
O jeito mais simples de criar uma amarelinha, é desenhá-la no chão de
cimento com giz de lousa. Faça um retângulo grande e divida-o em retângulo
menores alternando entre um e dois espaços, e enumere-os de 1 a 10.
O objetivo da brincadeira é jogar um marcador, que pode ser uma pedra,
em uma das casas e atravessar a amarelinha sem pisar no quadrado em que ele
está. Na volta, é preciso pegá-lo do chão.
O desafio está em alternar entre pular em um pé só ou com os dois,
bem como manter o equilíbrio para pegar o marcador. Quem completar todos
os marcadores de 1 a 10 primeiro, sem errar, ganha. Para dificultar, pode-se
adicionar mais marcadores e mais casas para pular.
Passa anel
Forme uma roda e peça a todos que unam a palma das mãos, com os dedos
apontando para o centro do círculo. Agora, uma criança vai ser escolhida para
colocar um anel ou uma pedrinha na palma da mão, e ela deve percorrer toda
a roda passando as suas mãos entre as mãos dos colegas.
Em determinado momento, ela deve deixar o objeto cair nas mãos de quem
ela escolher, sem que os demais percebam. Depois, ela vai chamar outra criança
para adivinhar onde está o anel. Se acertar, é sua vez de passar o anel. Se
errar, está eliminada do jogo.
Aos poucos, as crianças aprendem a
prestar atenção aos detalhes e a interpretar as expressões corporais para
decifrar sutilezas, bem como aprendem a estabelecer relações de cumplicidade,
uma vez que a criança que recebeu o anel também não pode revelar que o
objeto está com ela.
Por Ingrid Matuoka e Thais Paiva
Fonte: Educação Integral