Ver Mais discute sintomas e tratamento da hiperatividade e déficit de atenção

Você sabia que o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, é o distúrbio neuro comportamental mais comum na infância e na adolescência? E se não for tratado, o distúrbio pode acompanhar a pessoa no decorrer de sua vida inteira... Nós falamos sobre as causas, os sintomas e os tratamentos  com a psicóloga Kellen Escaraboto. 

De pai para filho, de filho para pai


Qual o papel de um pai? Mais especificamente, qual o papel do seu pai em sua vida? Vale destacar que o sentido do termo “pai” empregado aqui não se restringe ao progenitor biológico, mas sim àquela pessoa que assumiu tal função em sua história. Responder a essa questão pode ser simples para alguns ou extremamente difícil para outros, por várias razões. Um dos motivos desse leque de respostas deve-se justamente ao fato de que a relação entre pais e filhos não é inata, mas sim construída. Nesse sentido, a função paterna não é passível de tradução exata e universal, na medida em que atravessa diversos percursos particulares.
Não basta vestir a fantasia de pai e pronto! Trata-se de assumir um espaço significativo na vida dos filhos. O ambiente familiar é de extrema relevância para o desenvolvimento da criança. Geralmente, são os pais que participam das primeiras aprendizagens dos filhos, modelando comportamentos de menor e maior complexidade. Desde o treino para o usar o banheiro até passar a compartilhar os brinquedos com o irmão ou um colega da escola. Desde o uso das palavras mágicas (por favor, desculpe, com licença, entre outras) até a identificação e expressão de sentimentos.
O próprio processo de autoconhecimento pode ser promovido e facilitado pela mediação do pai, tendo em vista que é a partir da interação com a comunidade verbal que olhar para si adquire valor para o indivíduo. Tal repertório é valioso para que o indivíduo seja capaz de prever e controlar seus comportamentos, na medida em que se torna mais apto a identificar as variáveis que mantém determinadas respostas e manipulá-las (Skinner, 1974/2006).
Além disso, o modelo oferecido pelo pai é importante para o desenvolvimento saudável do filho. Um pai que diz ao filho para respeitar os demais e é mal-educado na relação com outras pessoas provavelmente não está oferecendo as condições adequadas para que o filho se comporte tal como o indicado. Nesse exemplo, se o pai obtém o que deseja ao apresentar a resposta considerada agressiva, é provável que o filho observe tal consequência como satisfatória e em situações semelhantes teste a emissão do mesmo tipo de comportamento. Diferentemente, quando o pai ensina determinados valores aos filhos e é coerente a esses mesmos princípios, proporciona ao filho um contexto que tende a favorecer a apresentação dos comportamentos esperados.
Mesmo que para muitos filhos o pai represente, de fato, um super-herói, e por mais que ele se dedique para alcançar os superpoderes, não terá todas as respostas, muito menos se comportará o tempo todo da maneira como gostaria que os filhos fizessem. Os pais também erram, também mudam e em muitas ocasiões também não sabem como proceder. Isso faz parte. Claramente não é em um passe de mágica que um pai se torna pai; tal papel demanda a aprendizagem de muitos comportamentos, o que por sua vez ocorrerá a partir do relacionamento estabelecido com os filhos, em cada etapa da trajetória dos mesmos.
Quando bebês, os filhos demandam o desenvolvimento de determinados repertórios comportamentais dos pais. Trocar fraldas, acordar de madrugada, discriminar o choro que indica fome e o que sinaliza cólica ou dor, preparar o banho, acompanhar os primeiros passos e palavras. Na infância, os comportamentos requeridos claramente não são os mesmos, geralmente envolvem ensinar a andar de bicicleta, a resolver um conflito na escola, ajudar com as tarefas, entre muitos outros. Durante a adolescência, as mudanças continuam, mais uma vez para ambas as partes. Ao passo em que os filhos passam por intensas transformações, os pais também precisam aprender a lidar com novos desafios, como dialogar sobre sexualidade, acompanhar as decisões referentes à escolha profissional e gerenciar os questionamentos dos filhos.
Pode parecer que na vida adulta do filho caberá ao pai uma tarefa mais leve, quando na verdade o processo de desenvolvimento e aprendizagem continua para as duas partes envolvidas. Inclusive, um novo papel poderá ser assumido, o de avô. Ademais, na velhice do pai, é possível que caiba ao filho determinadas funções de atenção e cuidado. Não necessariamente porque o pai perdeu a capacidade de agir sobre o mundo, mas sim devido à relevância desse contato com pessoas queridas para a qualidade de vida, em especial na terceira-idade.
De pai para filho. De filho para pai. A construção do modo como um se comportará frente ao outro, parte das relações que estabelecem entre si ao longo de suas histórias. E é justamente essa possibilidade de transformação que faz das interações humanas tão especiais. O homem interage com o ambiente e é transformado pelas consequências de sua ação. Ser pai e ser filho é sobretudo usufruir dessa oportunidade de transformar-se com o outro e pelo outro.
Parabéns aos pais que deram esse passo! Parabéns àqueles que se fazem pais todos os dias! Parabéns às pessoas que assumiram o papel de pai a partir do amor, acima do vínculo genético! Parabéns para o pais que contribuem para que os filhos sejam pessoas melhores e nessa missão também se tornam seres humanos mais humanos!
Referência bibliográfica:
Skinner, B. F. (2006). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix (Trabalho original publicado em 1974).
Fonte: Comporte-se

Capacidade e Dificuldade das crianças




Uma das coisas mais importantes pros pais se atentarem na educação dos filhos é como ensinamos eles a entenderem as suas capacidades ou dificuldades. Com 4 anos uma criança já tem um pensamento que pode distinguir entre "sou burro, sou inteligente, ele consegue porque é mais esperto, eu nunca vou conseguir" ou "eu preciso treinar mais pra conseguir, ele consegue porque se esforçou mais que eu, eu consigo aprender e melhorar o que eu quiser, se eu me dedicar mais". 


O que muda nos 2 casos é uma estrutura de pensamento fixa (sou ou não sou) para uma estrutura de construção (posso aprender e melhorar). 

Conseguimos ajudar os pequenos a desenvolverem essa estrutura de construção com 2 dicas:

1- Valorize o processo ao invés da criança- ao invés de dizer q ela é inteligente, esperta, boa quando consegue alguma coisa, diga q ela conseguiu, q ela se esforçou para fazer tal coisa, q ela melhorou desde a última vez. Isso faz com que quando ela não consiga, não vá para o outro extremo e pense q quem não consegue é burro ou algo assim.

2- Use a palavra AINDA nas falhas- quando o seu filho falhar em alguma coisa ou disser q não consegue, diga a ele q ele não consegue AINDA! Isso abre a possibilidade de mudança, de que ele pode conseguir se quiser. 

Dificuldades vão aparecer por toda a vida e essas duas estruturas de pensamento fazem toda a diferença na maneira de lidar com elas, mesmo na idade adulta.



Minuto Terapia com Carol Kherlakian

Dica de leitura: Acompanhamento psicológico de criança com problema de sono: Um relato de caso

O Artigo de Silvares, El Rafihi-Ferreira e Pires (2014) publicado pela revista Revista de Psicologia da Criança e do Adolescente (Lisboa) descreve um estudo de caso de uma intervenção comportamental para insônia infantil por meio de um programa dirigido aos pais, podendo constituir um bom material de estudo e trabalho para psicoterapeutas infantis!
Leia o resumo: 
Dificuldades com o sono são frequentes em crianças em idade préescolar. O objetivo do presente estudo foi de apresentar um relato de caso de uma intervenção comportamental por meio de orientação parental para o manejo de problemas de sono em uma criança em idade pré-escolar. Participaram do estudo um menino de quatro anos de idade que apresentava dificuldades de iniciar e manter o sono na ausência dos pais e sua mãe que recebeu orientação atráves de um programa de orientação parental. O programa foi composto por cinco sessões em que a mãe recebia orientações sobre o sono da criança e sobre as técnicas de extinção e reforço positivo para o manejo das dificuldades de sono infantil. O sono e o comportamento da criança foram avaliados em quatro momentos (pré-intervenção, pós-intervenção, follow-up 1 e 6 meses) por meio dos seguintes instrumentos:
1) Escala UNESP de Hábitos e Higiene do Sono-Versão Crianças;
2) Escala de Distúrbios do Sono para Crianças e Adolescentes;
3) Inventário de comportamentos para crianças entre 1½ a 5 anos;
4) Diários de sono: os resultados demonstraram que após a intervenção a criança passou a dormir independentemente, resistir menos a ir para cama e apresentou melhora nos seus comportamentos diurnos.

Pode se concluir que a intervenção comportamental dirigida aos pais, foi efetiva para os problemas de sono da criança.
Fonte: Comporte-se

Netflix divulga trailer de nova série sobre autismo

'Atypical' discute o transtorno do espectro autista durante a adolescência



A Netflix divulgou o trailer da nova série produzida pelo streaming: Atypical. Com um tom de 13 reasons why, ela aborda o autismo na vida de um adolescente. Pelo próprio nome (tradução literal para atípico), a série vai questionar o que é ser "normal" na sociedade atualmente.

O enredo conta uma uma história sobre amadurecimento que retrata a vida de um jovem autista de 18 anos, Sam, interpretado por Keir Gilchrist (United States of Tara). Em meio a uma busca por amor e independência, o personagem vive uma jornada divertida e emocionante de autodescoberta, enfrentando empecilhos de socialização, enquanto a sua família enfrenta as mudanças em sua própria vida.

A criadora da série é Robia Rashid, que já roteirizou para How I met your mother. Ela também é produtora executiva ao lado de Mary Rohlich e Seth Gordon, que vai dirigir o piloto. 

Além de Gilchirst, a série é estrelada por Jennifer Jason Leigh (Os oito odiados), Michael Rapaport (Punhos de sangue), Brigette Lundy-Paine (O castelo de vidro) e Amy Okuda (How to get away with murder). A estreia está marcada para 11 de agosto, no canal de streaming.

Livro: Meu filho tem autismo, e agora?


O lançamento da M.books deste mês mostra como implementar várias rotinas e fundamentos de sono, alimentação e higiene em apoio à criança autista.
Um livro prático que será uma leitura essencial e capacitadora para cada pai ou mãe cujo filho recebeu o diagnóstico de autismo recentemente ou para aqueles que ainda tentam descobrir por onde começar, para ajudar seus filhos.
A autora relata que ao saber do diagnóstico, os pais buscam ajuda e suporte para que tenham força para cuidar de seus filhos pois a maioria se sente aterrorizada e toda a vida da criança passa na frente de seus olhos.
Este livro conciso e realista permitirá que os pais retomem o controle da situação e dêem os primeiros passos práticos para uma vida calma e feliz com seu filho recém-diagnosticado.

Pesquisa monitora o cérebro de crianças com problemas de conduta e descobre: elas reagem menos à dor alheia

Estudo sugere que atividade cerebral de crianças pode ser vista como fator de risco para desenvolvimento de psicopatia na idade adulta
Pesquisadores mostram que, em crianças agressivas e violentas, as áreas
cerebrais responsáveis pela empatia são menos ativadas pelo sofrimento alheio.
(Thinkstock)
 
As origens do comportamento cruel apresentado por criminosos e psicopatas pode estar no cérebro. Um estudo publicado nesta quinta-feira no periódico Current Biology monitorou a atividade cerebral de crianças inglesas que apresentavam problemas de conduta. A pesquisa deixou claro que o cérebro dessas crianças, quando são confrontadas com imagens de pessoas sofrendo, reage de maneira diferente da maioria das outras: as áreas associadas à empatia se mostram menos ativas em reação à dor alheia. Diante dos resultados, os cientistas sugerem que a análise da atividade cerebral de crianças ao testemunhar cenas de sofrimento pode ajudar a apontar fatores de risco para o comportamento antissocial e a psicopatia na fase adulta.
 

Jovens com transtorno de conduta apresentam uma série de comportamentos que violam os direitos alheios, como agressão física, crueldade, roubo e falta de empatia em relação às outras pessoas. As crianças com esse tipo de comportamento têm maiores chances de se tornar adultos violentos e ter comportamentos antissociais. Na Inglaterra, onde o estudo foi conduzido, cerca de 5% das crianças parecem ter esse tipo de problema.
 
No novo estudo, os pesquisadores usaram imagens de ressonância magnética para descobrir se o cérebro dessas crianças com desvio de conduta reagia de modo diferente a fotografias de outras pessoas sofrendo. Como resultado descobriram que, em relação às outras crianças, áreas como a ínsula anterior, o córtex cingulado anterior e o giro frontal inferior — todas associadas à empatia — ficaram menos ativas.
 
Segundo os pesquisadores, isso não quer dizer necessariamente que toda criança com problemas de conduta tem a mesma reação ao sofrimento, e nem que qualquer em que demonstre esse tipo de padrão cerebral vá se tornar um adulto problemático — na verdade, a maior parte deixa esse tipo de comportamento para trás durante seu desenvolvimento.
 
"Nossa descoberta indica que crianças com problemas de conduta têm uma resposta cerebral atípica ao ver outras pessoas sofrendo. O importante é ver essas descobertas como um indicador de vulnerabilidade, em vez de um destino biológico. Nós sabemos que crianças são bastante suscetíveis a intervenções, e o desafio é fazer essas intervenções ainda melhores", diz Essi Viding, pesquisadora da University College London responsável pelo estudo.
 
Vulnerabilidade – Os pesquisadores também analisaram as diferenças de comportamento dentro do grupo das crianças com problemas de conduta, separando os indivíduos mais insensíveis e que demonstravam menos emoções. Essa indiferença emocional é uma importante característica dos psicopatas, e sua presença na infância pode ser vista como fator de risco para o desenvolvimento da condição na vida adulta.
 
Os cientistas descobriram que, em relação à dor alheia, o grupo apresentou uma atividade ainda menor na ínsula anterior e no córtex cingulado anterior. "Nossa pesquisa mostra muito claramente o fato de que nem todas as crianças com problemas de conduta têm a mesma vulnerabilidade neurobiológica — algumas podem ser mais vulneráveis à psicopatia, enquanto outras não. Isso traz a possibilidade de adaptarmos as intervenções existentes para se adequar aos perfis específicos que caracterizam as crianças com problemas de conduta", disse Essi Viding.
 
Fonte: Veja 

“Ai, que vergonha…”: Algumas palavras sobre a timidez infantil


A timidez [1] ilustra um padrão de comportamento caracterizado por déficit de relações interpessoais e uma tendência estável e acentuada de fuga ou evitação do contato social com outras pessoas. Este padrão abrange pessoas de todas as idades, muitas vezes iniciando na própria infância. Porém, surpreendentemente recebe atenção insuficiente das famílias, da escola e dos profissionais que trabalham com o público infantil. E nesse caso, nem sempre o tempo se encarrega da reversão do quadro: muitos adultos tímidos já foram crianças socialmente inibidas. Mas afinal, o que é a timidez, quais as medidas preventivas e em que consiste o tratamento? São as questões que serão respondidas neste texto.
 
Tecnicamente, a timidez está categorizada no âmbito dos comportamentos internalizantes, ou seja, comportamentos inadequados que se expressam “para dentro”, tendo como destinatário o próprio sujeito que o emite. A outra categoria, que abrange comportamentos que se expressam para fora (como agressividade, por exemplo), tem como destinatários os demais e, portanto, se torna mais visível aos olhos por perturbar e alterar o meio onde são produzidos.
 
No contexto escolar, ambiente onde alunos com menos agitação motora e que produzem menos barulho são desejáveis para o bom andamento das aulas, as crianças tímidas são muitas vezes elogiadas pelo seu comportamento retraído. Na família, também é possível verificar pais ou avós se vangloriando por terem filhos bem comportados, que não mexem nos pertences alheios ou que não fazem travessuras.
 
Como se pode perceber, a timidez enquanto comportamento internalizante não chama muito a atenção dos demais, visto que o prejudicado é o próprio indivíduo. No entanto, quando o embaraço diante de uma exposição se faz visível aos olhos (como quando uma criança é levada ao quadro para resolver uma tarefa ou quando precisa fazer uma leitura em voz alta perante um público) é que se tem uma dimensão da profundidade do problema. Porém, o alvo do prejuízo comportamental (se o próprio sujeito ou outras pessoas) não determina a gravidade da perturbação. Ou seja, os comportamentos internalizantes não são menos importantes ou menos danosos que os demais: estes também precisam de intervenção profissional para que haja melhor desempenho social e qualidade de vida.
 
Na Psicologia, o grau de dificuldade relacional pode ser classificado de acordo com a motivação para a aproximação e a evitação. Quanto a isso, existem as classificações: baixa sociabilidade, baixa aceitação social, a timidez propriamente dita e o estilo de relação passivo ou inibido.
 
Refere-se à baixa sociabilidade quando se trata de crianças que tem uma baixa motivação de aproximação social; porém, não há necessariamente um alto grau de evitação. São aquelas crianças que preferem estar sozinhas ao invés de acompanhadas. Não há a presença de ansiedade social e, quando exposta a grupos, a pessoa costuma apresentar bom desempenho nas conversações. Nos primeiros anos da infância, uma baixa sociabilidade não costuma ser desadaptativa. No entanto, em fases posteriores, esta baixa sociabilidade é apontada como um risco.
 
Quando há uma baixa frequência de interação social motivada por uma baixa aceitação dos demais, sendo excluídas e/ou esquecidas pelos colegas, tem-se o retraimento por baixa aceitação social. Algo que chama a atenção é que crianças rejeitadas são mais vulneráveis a problemas exteriorizados (como agressão, impulsividades, entre outros), acarretando um risco significativo ao desenvolvimento infantil e à sociedade.
 
Por outro lado, a timidez propriamente dita envolve aquelas crianças que estão motivadas à aproximação, mas também à evitação. Ou seja, elas gostariam de interagir com os outros, mas acabam evitando o contato por determinadas razões, como o excesso de cautela e receio diante de avaliações e desaprovações.
Existe também a categoria de timidez referente ao estilo passivo nas relações interpessoais. Para tanto, é mister abordar a assertividade, termo que se refere à expressão direta dos próprios sentimentos e a defesa dos próprios direitos pessoais, sem ferir ou negar os direitos dos outros. Neste âmbito, observa-se que as pessoas tímidas costumam agir de forma passiva nas relações interpessoais. Ou seja, há a violação de seus próprios direitos pela dificuldade ou impossibilidade de expressar sentimentos, pensamentos e opiniões. Assim, a pessoa se anula perante os outros, mesmo tendo o direito de se posicionar e de se mostrar aos demais.
 
Uma pessoa passiva, portanto, é uma pessoa dita inibida, introvertida, que muitas vezes se frustra por não conseguir atingir seus objetivos. Sem expressão, os outros se adiantam em resolver seus problemas ou a decidir por elas. Temendo deteriorar a relação com os outros (ou de ser mal compreendida), adota comportamentos de submissão, esperando que as outras pessoas percebam suas próprias necessidades e anseios. Como se pode observar, este tipo de comportamento tem como objetivo apaziguar os outros e evitar conflitos. Assim, esquivar ou fugir dessas situações ansiógenas é muito cômodo, o que favorece a manutenção do quadro.
 
Acompanhando estas linhas, o leitor pode constatar que crianças passivas são facilmente presas de pessoas mal intencionadas, havendo risco de serem avassaladas ou ameaçadas pela ausência ou deficiência da expressão. Assim, poderão ser manipuladas e controladas pelos demais e não defenderão seus próprios direitos e anseios. Ou seja, poderão aceitar brincar de um jogo que na verdade não gostam, comportar-se em discordância com seus valores e opiniões para evitarem a exclusão social, entre outros exemplos.
 
Dessa forma, a timidez pode ser constatada a partir da observação e da comparação com os demais colegas. Por exemplo, os tímidos costumam se manter mais quietos em comparação aos outros colegas, não tiram dúvidas em sala de aula, não começam nem mantém diálogos com os demais, passeiam sem cumprimentar os transeuntes (geralmente, com postura evitativa, olhando para baixo), em atividades grupais costumam ficar calados e acatarem as opiniões dos demais. Ficam mais solitárias e, quando não, interagem bem menos do que seria possível.
 
Muitas vezes, tais comportamentos são acompanhados de níveis significativos de ansiedade, medo, preocupações e pensamentos negativos diante de contextos interpessoais que impliquem avaliação dos demais (como ler em voz alta, resolver um problema no quadro, fazer uma apresentação na feira de ciências, por exemplo). Com a ansiedade, pode haver tremores, suor nas extremidades, gaguejos, rubor, náuseas ou calafrios. Assim, com estas sensações aversivas, muitas vezes a criança pode evitar o contato social e seus efeitos colaterais, assim como a exposição e as avaliações sociais. Ao passo disso, a timidez afeta também o autoconceito, a autoestima e o senso de eficácia.
 
Manifestando-se na infância, mas sem reversão do quadro, as dificuldades são passadas para as fases posteriores do desenvolvimento, muitas vezes mais graves. Já na fase adulta, as então crianças tímidas provavelmente terão dificuldades com autoestima, no mercado de trabalho e também no âmbito afetivo-sexual. Sem posicionarem-se adequadamente, aceitarão o que de fato não querem (como uma relação afetiva sem perspectivas), submeter-se-ão a situações aversivas por não conseguirem resolver problemas (como a um chefe coercitivo, por exemplo), assim como também poderão ter dificuldades em fazer amizades.
 
Como qualquer outro comportamento, o critério para que um padrão seja considerado um problema é haver prejuízo em algum âmbito da vida. Assim, se a timidez passa de um “charme” ou uma maneira reservada de interagir para algo que prejudica a socialização e/ou o desempenho acadêmico, recomenda-se procurar ajuda profissional. Dessa forma, evita-se o agravamento do quadro para Fobia Social e também para prejudica as outras fases do desenvolvimento.
 
A título de ilustração, algumas medidas recomendadas para abordagem de retraimento social são as práticas desportivas e as atividades artísticas. Por exemplo, o teatro desenvolve a expressão corporal, emocional e a fluência verbal através da exposição. No âmbito de tratamento, nas terapias comportamentais existem técnicas que aprimoram o repertório social, ao mesmo tempo em que são trabalhados os comportamentos privados (pensamentos) e as emoções, como a ansiedade. Alguns exemplos são o Treino de Habilidades Sociais e os exercícios de relaxamento. Assim, com a psicoterapia, a criança tímida pode aprender repertórios mais adaptativos de interação social e, assim, favorecer o seu desenvolvimento psicossocial e afetivo.
 
[1] O termo timidez tecnicamente é chamada de retraimento social, mas também tem várias outras denominações, como inibição e introversão. Neste texto, estes termos serão utilizados sem distinção de significados
Juliana de Brito Lima é Psicóloga (CRP 11ª/05027), formada pela Universidade Estadual do Piauí e especializanda em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento – IBAC. É membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental – ABPMC. Atua como psicóloga clínica em Teresina-PI (Clínica Lecy Portela, onde atende criança, adolescente e adulto), realizando orientação online através do Instituto de Psicologia Aplicada – InPA. Também atua como psicóloga forense no Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, na Comarca de Caxias. Atuou como pesquisadora no Núcleo de Análise do Comportamento da Universidade Federal do Paraná/ NAC-UFPR (linha de pesquisa “Desenvolvimento da criança e do adolescente em situações adversas”) e atualmente está vinculada ao Laboratório de Neurociências Cognitivas da Universidade Estadual do Piauí- UESPI. Contato: juliana@inpaonline.com.br.