Por que tanto desespero? Saber ler, escrever e
contar antes dos seis ou sete anos não quer dizer nada
RECEBO MUITAS, muitas perguntas e dúvidas de pais
que têm filhos com seis anos, mais ou menos. Várias mensagens chegam em tom
quase desesperado. O motivo? O processo de alfabetização dos filhos.
Vamos tentar acalmar esses pais com alguns
esclarecimentos importantes para que, um pouco mais tranquilos, eles não
pressionem tanto seus filhos.
De partida, é bom avisar: a criança tem tempo de
sobra para se desenvolver nesse processo. Qual o prazo? No ensino fundamental,
com duração de nove anos, esperamos que a maioria dos alunos esteja
alfabetizada ao final do segundo ano.
Por isso, caro leitor, caso o seu filho esteja no
primeiro ano, pode relaxar. Ele ainda tem pelo menos um ano e meio para se aprimorar
no processo da leitura, primeiramente, e escrita.
Acontece que muitos pais foram convencidos pela
sociedade de que é melhor a criança aprender o mais cedo possível a ler,
escrever e trabalhar com números. Não é.
Já temos inúmeros estudos e pesquisas apontando que
crianças precocemente introduzidas no ensino formal não se mostram, no futuro,
mais avançadas nos estudos. Além disso, até demonstram menor curiosidade pelos
estudos e menos criatividade nos trabalhos escolares do que suas colegas que se
dedicaram a brincar nos anos da primeira infância.
Tem mais: as crianças massacradas por escolas e
famílias para a vida escolar no estilo acadêmico antes dos sete anos
desenvolvem mais doenças resultantes da ansiedade e da pressão, tais como
estresse, desatenção, distúrbios alimentares e do sono, entre outras.
Veja, caro leitor, o resultado dessa ideia que a
sociedade desenvolveu nos pais. Uma leitora, que coloco no grupo dos pais
desesperados, conta que mudou de cidade e sua filha, matriculada no primeiro
ano, já sabia ler e escrever muitas coisas. Mas agora, na transferência de
escola, parece que regrediu e se esqueceu de muita coisa que havia aprendido.
O que nossa leitora não percebe é que, se a
garotinha esqueceu, é porque não havia aprendido. Talvez tivesse sido treinada,
condicionada ou coisa que o valha a escrever e ler algumas palavras. Quem se
alfabetiza com sentido, ou seja, quem entende primeiramente a função social da
leitura e da escrita, não se esquece com essa facilidade.
Outra mãe que tem a filha também no primeiro ano me
escreveu reclamando da escola, por ter enviado muitas lições para serem feitas
nas férias. Mas, de quebra, contou que a filha leva duas horas diariamente
fazendo lições de casa e, três vezes por semana, ainda faz acompanhamento
psicopedagógico por indicação da escola, por apresentar "dificuldades na
alfabetização".
Fico penalizada com a vida que essa menina (como
muitas outras) está levando. Quando será que ela brinca? Brincar é uma coisa
que, até os seis anos, a criança deveria fazer o tempo todo.
O ensino formal de leitura e escrita e o trabalho
com números podem ser iniciados aos sete anos sem prejuízo algum para a vida
escolar futura dessas crianças. Por que tanta pressa? Saber ler, escrever e
contar antes dos seis, sete anos não significa absolutamente nada.
O que significa muito no futuro desenvolvimento do
chamado processo de letramento é a criança aprender, desde bebê, o prazer da
leitura. Contar histórias para ela, dar livros bonitos para ela brincar e
"ler", conversar bastante com ela para que amplie seu vocabulário,
ouvir com atenção as histórias que ela gosta de contar e brincar com os sons
das palavras são alguns exemplos de como os pais podem ajudar no
desenvolvimento de seus filhos.
Mas sem pressão, por favor! As crianças agradecem.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (Publifolha)
Nenhum comentário:
Postar um comentário