Li uma
entrevista interessante na revista Veja on line e gostaria de compartilhar.
Essa reportagem nos remete a refletir sobre a forma que muitos pais educam os
filhos e muitas vezes utilizam punições inadequadas, sem lógica. Vejam, é
interessante!
Entrevista: O que falta é afeto -
Revista Veja
Psicóloga diz
que educar dá trabalho e que os pais fazem mal aos filhos com punições sem
lógica e às vezes até cruéis
"Tem-se a
impressão de que os pais são tolerantes demais com os filhos.
Descobri o
contrário" Lidia Weber
A maioria dos
pais se martiriza com questionamentos intermináveis sobre como criar os filhos.
Por mais que evitem, estão sempre esquadrinhando seu comportamento. Estariam
sendo muito duros? Muito permissivos? Muito autoritários? Como agir em
determinada situação? Para a psicóloga Lidia Weber, de 46 anos, o tema é uma
fonte inesgotável de indagações das quais já se consolidaram, felizmente,
algumas certezas. Autora de seis livros sobre relações intrafamiliares,
coordenadora de um programa de dinâmica familiar na Universidade Federal do
Paraná, ela costuma aconselhar seus alunos e os pais que a procuram da seguinte
maneira: "Siga sua consciência, obedeça a seus valores". É essa a
maneira de educar. Para ela, o sucesso na criação passa pelo fortalecimento da
auto-estima das crianças. E isso se faz, ao contrário do que diz o senso comum,
mais com elogios do que com punições. "Muitos pais não sabem elogiar. Têm
vergonha", diz. Casada, mãe de três filhos entre 10 e 16 anos, Lidia – que
nunca apanhou dos pais e nunca bateu nos filhos – é uma entusiasta do castigo e
uma inimiga da palmada, que ela considera dispensável mesmo nas situações de
limites.
Veja – Por que
os pais parecem tão assustados com a tarefa de educar os filhos?
Lidia – Acho
que há duas razões principais. Primeiro, pela realidade mesmo. Somos todo o
tempo bombardeados com notícias sobre violência. Isso dá muito medo. Outra
razão eu acho que se deve ao que chamo de quebra da solidariedade entre os
adultos. Antes, tínhamos a sensação – e era verdade – de que poderíamos contar
com outras pessoas para cuidar do bem-estar de nossos filhos. Os vizinhos, os
parentes, os professores faziam parte dessa rede de segurança. Hoje isso não
existe mais. É cada um por si. O perigo pode morar ao lado. Esse medo do
"outro" é a expressão mais tangível da paranóia dos pais.
Veja – Qual a
melhor maneira de os pais lidarem com esses medos?
Lidia – Acho
fundamental a retomada da rede de segurança. Contar com os avós, com amigos
próximos. Voltar a aprender a confiar. Isso conforta e dá segurança. Os pais
também têm de se focar. Gasta-se muito tempo com preocupações menores. Se o
filho não comeu verdura, se o outro deixou os tênis espalhados pelo quarto, se
a filha saiu sem casaco, e por aí vai. Isso não quer dizer nada. Só provoca
angústia e insegurança nos pais e nos filhos. Antes de fazer tantas ressalvas,
questione-se: "Isso realmente é crucial?" ou "Que lição meu
filho vai levar disso?". Às vezes, a obsessão com a segurança pode ser
mais danosa que os próprios riscos.
Veja – Livros
de auto-ajuda ou de como criar os filhos vendem como nunca. Eles são úteis?
Lidia –
Depende. A maioria dos pais ignora a fase de desenvolvimento dos filhos. Se
soubessem como são os comportamentos típicos de cada idade, educar ficaria mais
fácil. Por exemplo: é normal um menino de 6 anos querer comer com a mão. É
normal chegar à adolescência e, durante uma briga, dizer que odeia os pais.
Ciente disso, fica mais fácil gerenciar, lidar com essas questões. Ao
contrário, tudo pode se tornar um drama. A mãe pensa: "Ah, vou deixar
minha filha fazer o que ela quiser, porque eu não agüento ouvir isso". Os
livros são úteis para isso. Para informar como é uma criança, um adolescente.
Mas livros que falam como fazer seu filho ficar rico ou virar um gênio não
podem ser levados a sério.
Veja – Por
quê?
Lidia – Porque
não existe um padrão, um modelo em que se possa enquadrar todo mundo. Esses
livros servem para aliviar a culpa de alguns pais. Eles acham que lendo um
manual vão aprender a ser perfeitos. Os pais sentem muita culpa porque passam
muito tempo longe dos filhos. Mas é uma realidade hoje. É preciso ter noção de
que seu filho não vai virar um desajustado porque não está 24 horas a seu lado.
Nem ele nem os amiguinhos ficam tanto com os pais. Dito assim, parece óbvio, mas
os pais devem educar os filhos de acordo com seus valores pessoais, não pelo
valor dos autores de livros. Têm de entender que só eles são capazes de tomar
decisões e passar valores para suas crianças.
Veja – A
senhora costuma dizer que não há pais permissivos, há pais negligentes e com
pouco afeto. Por quê?
Lidia –
Fizemos várias pesquisas na Universidade Federal do Paraná com cerca de 1 500
crianças de escolas públicas e particulares. Hoje, tem-se a impressão de que a
maioria dos pais é tolerante demais. Descobrimos o contrário. Há muito pouco
afeto em jogo.
Veja – Qual o
maior dilema dos pais?
Lidia – Sem
dúvida, é a questão de bater ou não bater. Porque a maioria apanhou, e quem
apanhou acha normal bater. A outra dificuldade é sobre questões cotidianas, que
a gente chama de supervisão inadequada, excessiva. Os pais estão estressados,
têm pouca paciência. É muito mais eficiente dizer: "Olhe, eu vou chamar
você uma vez para almoçar. Se não vier agora, só vai comer na próxima
refeição".
Veja – A
senhora coloca a palmadinha de leve no mesmo patamar de uma surra? Não é
exagero?
Lidia – O
princípio é o mesmo: eu uso o poder e a força para obrigar você a parar de
fazer alguma coisa. Em 99% dos casos a palmada é usada quando os pais estão com
raiva. Isso aumenta o risco de a punição se transformar em maus-tratos porque
você está descontrolado. O único resultado positivo da palmada é que a criança
pára de perturbar na hora. E esse é um dos aspectos perversos do tapa: por ter
efeito imediato, os pais o utilizam com muito mais facilidade e freqüência. Há
um estudo da professora Elizabeth Gershoff, da Universidade Columbia, provando
o mal da palmada a longo prazo. Há dez aspectos negativos observados para cada
um positivo. Mulheres que apanharam dos pais na infância costumam encarar com
mais naturalidade a violência do marido, por exemplo. Há uma ligação estreita
com o aumento de agressividade, de comportamento delinqüente e anti-social.
Veja – Estamos
falando de uma palmadinha...
Lidia – Ainda
assim. No estudo de Gershoff é feita essa diferença. São várias análises que
levam em conta o que se chama de punição normativa e o abuso físico de fato.
Então, alguém pode dizer: "Eu apanhei dos meus pais e não sou
anti-social". Tudo bem. Mas isso não prova muita coisa. A pesquisa é mais
esclarecedora nesses casos porque reflete o que ocorre com a maioria das
pessoas. É claro que, se você leva um tapinha mas é estimulado em casa a ter
uma boa auto-estima, não vai virar um marginal. Se os pais forem muito
competentes e usam uma palmadinha de vez em quando, isso não causa prejuízo.
Mas eu pergunto: se são tão competentes, por que precisam bater?
Veja – E o
castigo?
Lidia – O castigo
é muito eficiente. A retirada de privilégios é uma conseqüência lógica:
"Você chegou às 11 da noite, era para chegar às 10, então da próxima vez
vai chegar às 9". O filho precisa de regras, pois a vida adulta é cheia
delas. Com adolescente, saber negociar também é vital. Outro dia, minha filha
foi advertida na escola porque não fez a tarefa. Ela mesma veio até mim e
disse: "Então, vamos ver o castigo que eu posso ter. Vai ter a festa da
fulana, então eu não vou à festa". Causa e conseqüência. Isso vem de
berço. É uma doutrina que se ensina desde pequeno.
Veja – Qual o
grande erro dos pais na hora de castigar?
Lidia – É
quando não conseguem estabelecer regras coerentes de acordo com a idade, e
consistentes de acordo com sua conduta. Você não pode dar um castigo conforme o
seu humor. Por exemplo, aquela mãe que, depois que uma criança aprontou algo,
começa a berrar: "Vai ficar um mês sem usar a internet!" ou "Vai
ficar uma semana sem sair de casa!". É quase impossível manter isso.
Então, só imponha castigos que você pode cumprir. Do contrário, seu filho vai
perder a confiança e o respeito por você.
Veja – Há
técnicas eficientes de castigo para cada idade?
Lidia – Com
crianças menores, há técnicas eficientes como o time out. É o famoso ficar no
quarto trancado ou sentado sem levantar ou falar por alguns minutos. É preciso
ter muito controle porque a criança pode chorar e berrar e você tem de se
manter firme. Crianças nessa idade querem muita atenção. É nesses poucos
minutos que elas vão sentir a pena. Calcule um minuto por ano. Três anos, três
minutos de castigo. O que conta é que haja conseqüências imediatas.
Veja – E se
você está no shopping com seu filho de 6 anos, ele se joga no chão, começa a
berrar feito louco porque quer um tênis de 300 reais? Como falar "Vamos
conversar, meu filho" com o menino dando um escândalo?
Lidia – Você
não vai falar isso na hora. Até porque vai estar com raiva também. Segure-o
pelo braço e leve-o embora dali. Quando ele se acalmar, mostre as conseqüências
da má atitude dele. Criança não nasce chata. Ela fica chata por causa dos pais.
Se a criança faz birra e os pais cedem para se ver livres do escândalo, eles
estão recompensando esse comportamento. Aí vira aquela criança insuportável, da
qual os pais mesmos vão se afastar e dizer: "O gênio dela é ruim".
Não existe isso.
Veja – Os pais
têm preguiça de ensinar?
Lidia – Eles
têm de argumentar, o que é mais complicado. Dá muito mais trabalho do que
simplesmente dizer não. Se seu filho quer um tênis de 300 reais "porque
todos os amigos têm" e você não vai comprar, explique as razões. Diga que
não é com um tênis que ele vai se tornar alguma coisa ou que é contra seus
princípios pagar tão caro por um sapato ou simplesmente que você não tem o
dinheiro. Mas diga o motivo sincero. Você não pode sair de lá e cinco minutos
depois comprar uma bolsa de 500 reais para você.
Veja – Como
convencer pais que trabalharam o dia todo, brigaram com o chefe, passam por uma
crise no casamento a chegar em casa e ter ânimo de argumentar com as crianças?
Lidia –
Educação é trabalho. Se você tem um relatório para entregar para seu chefe no
dia seguinte, você vai virar a noite, mas vai escrevê-lo. Se está com TPM mas
tem uma reunião decisiva, você toma um comprimido e vai. Por que muitas pessoas
não têm esse empenho quando se trata de educar suas crianças? É o que chamamos
de "investimento parental". Tem de investir, tem de fazer um esforço,
tem de dar a real importância a esse tempo com os filhos. Mas, se você não
conseguir um dia ou outro, também não é o fim do mundo.
Veja – E se os
pais nunca fizeram isso? É possível mudar o comportamento depois de muitos
anos?
Lidia – Há uma
técnica que chamamos de quadrinho de recompensas, em que você foca nas coisas
positivas feitas pela criança. É muito eficiente se usada depois dos 4 anos.
Liste todas as tarefas que você considera positivas. Pode colocar até arrumar a
cama, escovar os dentes, comer tudo. Quando a criança fizer isso, ela mesma vai
até o quadrinho e se dá uma estrela. Quando um pai permissivo resolve mudar de
atitude, a criança piora o comportamento no primeiro momento. Ela vai tentar
obter a atenção com as armas que usava antes. Se fazia birra, vai fazer ainda
mais. Então, tem-se de agüentar esse começo.
Veja – Existe
um caminho de como fazer de seu filho um adulto feliz?
Lidia –
Fortalecer a auto-estima. É surpreendente, mas a maioria dos pais tem
dificuldade de elogiar seu filhos. Eles temem parecer falsos. Mas é preciso
insistir até conseguir. Se dois irmãos estão brincando e eles costumam brigar,
em vez de dizer "Até que enfim, vocês estão brincando", diga:
"Que bom, vocês estão brincando juntos". Sem sarcasmo, sem
provocação. Os pais devem sempre mostrar que o amor deles pelos filhos é
incondicional. Aquela coisa de dizer: "Ah, se você não comer tudo não vou
mais gostar de você" mina a auto-estima da criança de um jeito quase
irreversível. A criança tem de contar com o seu amor, mesmo que ela faça algo
errado.
Veja – Como
fazer com que seu filho confie em você?
Lidia – Ouça,
não julgue. Não avalie seu filho pelos seus padrões. Se sua filha vier lhe contar
que "ficou" com dois meninos numa festa, não faça escândalo. O mundo
mudou. Hoje isso é plenamente aceitável. Se você brigar, ela nunca mais lhe
contará nada. Mas, se ela contar que transou com dois, aí é outra coisa. Seu
papel é explicar que isso não é aceitável. Exponha as causas e as conseqüências
de tal atitude, mas sem puni-la. Ensine desde a tenra idade seu filho a falar
sobre si próprio.
Veja – O que é
fundamental na relação entre pais e filhos?
Lidia – Afeto,
envolvimento, participação, saber quem são os amigos. É preciso monitorar. Não
é ligar para o celular da criança ou adolescente a cada dez minutos. É mostrar
que você se importa, que participa da vida deles, mesmo que, num primeiro
momento, isso pareça intromissão. Não tenha dúvida: no futuro, eles
agradecerão.
Por: Daniela
Pinheiro
Um comentário:
dificil ter essa confiança citada no inicio, pois, meu padrastro antes de casar com mminha mae, tentou ficar comigo, queria que eu sentasse ao lado dele do sofa, pra esperar minha mae chegar do serviço, eu não queria ficar e ele me puxou, eu sentei e aí ele ficou passando a mão no meu pescoço eu sai e depois ele me abraçou e começou a falar no meu ouvido, lembro de ter ouvido ele perguntar se eu gostava que passava a mão no meu pescoço, sei que agora não tenho vontade de voltar a trabalhar e deixar meu filho, alguns minutos que ele fica lá na casa dela, se ele esta, eu fico louca de preocupação, tenho tanto arrependimento de não ter brigado mais , de não ter xingado, de ter impedido esse casamaento, esses dias ele levou meu filho pra assistir desenho no quarto eu fiquei com muita raiva e não voltei mais lá, ,,,Tenho criado meu filho preso a mim e tenho medo do que isso possa significar no futuro, hoje ele esta muito birrento e teimoso, com 2 anos ja quer mandar em mim, eu estou tão perdida e confusa ;(
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