O autismo, uma
perturbação do desenvolvimento que se manifesta normalmente durante a infância,
passou de uma doença quase desconhecida a um “surto” de diagnósticos. Motivo
que está a levar a Associação Americana de Psiquiatria a reformular a definição
de autismo e de outras patologias do mesmo espectro. A mudança deverá
traduzir-se numa redução do número de diagnósticos – o que segundo os
especialistas pode ser um passo positivo. Porém, a ser assim os apoios
escolares que dependem deste diagnóstico também ficariam em causa.
Problemas na
interacção social, atrasos no desenvolvimento da linguagem, comportamentos
repetitivos e adesão inflexível a rotinas são apenas alguns dos pontos que
actualmente fazem parte dos critérios de diagnóstico do autismo ou de outras
patologias do mesmo espectro. Mas a variedade de sintomas e formas de
manifestação são tão diversas que o autismo ou outras perturbações mais
ligeiras, como a Síndrome de Asperger, esbarram em dois problemas: ou não são
reconhecidos pelos médicos ou são diagnosticados sem haver um quadro clínico
que o justifique.
As principais
linhas orientadoras para a nova definição – que será concluída até final de
2012, no âmbito da quinta revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Perturbações Mentais, que serve de referência mundial – foram apresentadas na
quinta-feira num encontro da Associação Médica da Islândia e passam por abolir
a palavra “autismo” ou “Asperger”, falando-se só em “perturbações do espectro
do autismo”, refere o New York Times.
O problema é
que os critérios passam a ser mais apertados para separar o “pouco usual” de
uma verdadeira “perturbação”, e as crianças têm obrigatoriamente de apresentar,
por exemplo, dois comportamentos repetitivos (um dos estereótipos mais associados
a este distúrbio mas que nem sempre estão presentes).
Contactada
pelo PÚBLICO, a pedopsiquiatra portuguesa Áurea de Ataíde, explica que, na
prática clínica, existe desde “há muito o conceito de ‘perturbações do espectro
do autismo’”. Há também, prossegue a mesma médica, dificuldades em distinguir
as várias perturbações, “principalmente quando se trata de crianças muito
pequenas”. Por isso, a redefinição do conceito – que irá demorar um ano –
poderá vir a facilitar a vida dos médicos.
Por outro lado,
a especialista salienta que “a eterna dificuldade em Psiquiatria em estabelecer
a linha entre o que é invulgar e o que é perturbação vem talvez ser acentuada
pelo desaparecimento das diferentes categorias actualmente existentes,
nomeadamente da Síndrome de Asperger, na qual se enquadram muitos dos casos em
que as capacidades cognitivas, de linguagem e nível de funcionamento” são menos
afectadas.
Áurea de
Ataíde defende, assim, que o mais importante é uma aposta num diagnóstico
precoce bem feito e com a colaboração de pais e educadores para, se necessário,
se poder começar uma intervenção especializada, da qual “depende a evolução e o
prognóstico das alterações”. Mas alerta, também, que o trabalho deve ser
cauteloso: “Não podemos esquecer que pode ser muito grave para uma família a
realização ‘leviana’ de um diagnóstico como este, que tem um peso emocional,
familiar e social importantíssimo”.
Na sequência
do encontro da Islândia, foi dado a conhecer um estudo da Universidade de Yale
que estima que o número de pessoas que reúnem os critérios para um diagnóstico
do espectro do autismo seja reduzido para metade, o que pode ter sérias
implicações nos apoios sociais às famílias, em especial para as crianças em
idade escolar. No caso concreto dos Estados Unidos, onde a maior parte da
população depende de seguros privados de saúde, a mudança poderá ter impactos
desastrosos nas famílias, que verão as suas apólices recusarem apoios a
terapias de crianças com necessidades especiais mas sem o nome autismo.
Actualmente, estima-se que naquele país uma em cada 100 crianças tem um
diagnóstico do espectro do autismo. Catherine Lord, da Associação Americana de
Psiquiatria, citada por diferentes jornais americanos, garantiu que o único
objectivo é clarificar os casos e que ninguém deixará de ter ajudas.
Áurea de
Ataíde assegura que a situação em Portugal é muito diferente, por que existe um
sistema público de saúde e de educação. A especialista concretiza que em
Portugal não é necessário o nome “autismo” para conseguir que uma criança tenha
apoio na escola e que consegue encaminhar, por exemplo, casos de défices de
atenção, apesar de se assistir a alguma “estagnação” nos recursos disponíveis e
haver “um longo caminho a percorrer”, sobretudo no que diz respeito a
assimetrias nacionais.Uma opinião corroborada pela presidente do conselho
executivo da Federação Portuguesa de Autismo, Isabel Cottinelli Telmo, que
considera “necessária” a mudança do conceito de autismo, para não se cair em
“diagnósticos empolados” quando se incluem “todas as pessoas excepcionais ou
com idiossincrasias por exemplo na Síndrome de Asperger”. Sobre a realidade
portuguesa, a mesma responsável lamenta que não existam estudos epidemiológicos
nacionais, mas acredita que os números são inferiores aos dos Estados Unidos.
Para Isabel Cottinelli Telmo “o que interessa são as necessidades das pessoas,
mais do que os rótulos”.
Fonte: Público Pt
Um comentário:
Neste Mundo novo para quase toda agente, eu faço um comentário como Pessoa que adora pessoas, de prdefência diferentes da grande maioria. Com elas se ama melhor, se trabalha bem, se ensina com outra dimensão e enlevo, se aprende muito mais do que no ensino normal.
De qualquer idade. Mas nunca esquecendo a melhor maleabilidade na idade infantil, claro.
Só o facto de poder contar com o amor indiscutivel destes seres humanos, nos ajuda a compreende-los melhor.
AOS PAIS, AOS FAMILIARES, AOS VIZINHOS, MÉDICOS, TÉCNICOS E- SE POSSIVEL A TODOS - eu gostaria de pedir, mais compreensão, apoio, e paciência que aliada a algumas pequenas necessidades de estudo e conhecimento, fazem autenticos milagres e nos fazem sentir realmente bons humanos.
Gui
Postar um comentário