Elogio é bom e faz bem

Se você costuma elogiar as atitudes positivas de seus filhos, parabéns! Você está no caminho certo. É isso mesmo! As crianças aprendem muito mais através de elogios.
 
 
Um grupo de pesquisadores, por exemplo, colocou dois grupos de crianças para executar uma tarefa de complexidade média, onde todos conseguiriam fazer. Durante a atividade, um grupo foi elogiado pela sua inteligência e outro pelo esforço, ou seja, pela capacidade de tentar e pela persistência. Novamente foi proposta outra atividade, de complexidade semelhante à primeira, e as crianças do grupo que foi elogiado pela Inteligência não quiseram fazer a nova atividade, ou seja, não quiseram correr o risco de falhar e não serem mais elogiadas pelos adultos. Já o grupo das crianças que foram reforçadas por sua tentativa e persistência; todas quiseram fazer a nova atividade, afinal, ganhariam o elogio dos adultos se conseguissem ou não realizar a tarefa. Seriam elogiadas pela tentativa.
 
Então, os elogios devem ser em relação às atitudes e comportamentos da criança, como: “Parabéns, meu filho! Você tentou, tentou e conseguiu!”, “Nossa, como você é organizado! Seus brinquedos estão todos guardados!”, “Como você é gentil ajudando o seu irmãozinho!”. Esse tipo de elogio, além de reforçar o comportamento adequado da criança, mostra o que os pais esperam dela. Quando a criança entende o que é esperado dela, a chance de executar determinados comportamentos aumenta. Muitos pais, infelizmente, focam a sua educação em dizer o que a criança não deve fazer, mas esquecem de falar o que é para ser feito e de elogiar quando eles acertam.
 
Se os pais focarem a sua atenção aos comportamentos inadequados dos filhos, apenas falando sobre o que eles estavam fazendo de errado, a tendência é que os filhos continuem com os comportamentos inadequados, a fim de ter atenção dos genitores. Lembre-se que atenção negativa ou positiva, continua sendo atenção da mesma maneira.
 
Dessa forma, é melhor os pais concentrarem sua atenção naquilo que querem de melhor para os filhos. Quanto mais a educação for baseada no aspecto positivo, mais resultados surgirão. A criança é muito suscetível ao elogio, pois através dele, sente-se adequada e mais amada pelos pais. Tudo que as crianças querem (e nós adultos também) é sentir que são amadas e aceitas.
 
Portanto, quando forem educar os filhos, corrijam as atitudes e não a criança. Não diga que seu filho é errado, porque na verdade, a atitude é que é inadequada. Opte por explicar o que deve ser feito e o porquê deve ser feito daquela maneira e elogie a criança, inclusive, pela tentativa de mudança. Elogie mais ainda quando ela alcançar o resultado esperado.
 
Fonte Nota10
 

Estudo da USP: Obesidade infantil pode estar ligada a fatores psicológicos

Além dos hábitos alimentares e do estilo de vida, mais um aspecto pode estar relacionado à obesidade infantil: o fator emocional.

Obesidade infantil: Comer demais é uma forma de preencher vazio emocional

Uma pesquisa realizada pela psicóloga Ana Rosa Gliber no Instituto de Psicologia (IP) da USP revela que o ganho de peso em crianças pode estar associado a situações de perda e características de personalidade e que pode haver a necessidade de psicoterapia no tratamento do problema.
Ana identificou, na dissertação de mestrado Um estudo compreensivo da personalidade de crianças obesas: enfoque kleiniano, a relação entre o ganho de peso e situações traumáticas ou de perda. Ela analisou a personalidade de seis crianças que não possuíam transtorno orgânico que justificasse a obesidade. Comer demais, para elas, é uma forma de amenizar o sofrimento e trazer tranqulidade. “Elas tentam preencher o vazio emocional e lidar com os problemas comendo, pois essa é uma forma de manter algo bom dentro de si. Se você tira isso, ela sente que perdeu algo bom”, afirma. Daí a importância da psicoterapia.
A pesquisadora também observou, em todos os casos, a presença de um problema amplamente discutido nos dias atuais: o bullying, ato de intimidação ou agressão, que pode ser psicológica ou física, praticado geralmente por um grupo de pessoas. As seis crianças passavam por situações do tipo, que as levavam ao isolamento e à depreciação de si, o que agravava ainda mais a questão psicológica que levava à obesidade.
Acompanhamento psicológico

A pesquisa, orientada pelo professor Avelino Luiz Rodrigues, conclui que não só os hábitos alimentares e o estilo de vida influenciam o ganho de peso, mas também a história de vida e o meio em que cada criança vive. Com esses resultados, Ana destaca a importância do acompanhamento psicológico no tratamento da obesidade: as seis crianças analisadas na pesquisa precisavam de psicoterapia para lidar com as situações de vida penosas e sua relação com a comida, além de cuidados médicos e nutricionais.

Ana também enfatiza a importância de um tratamento preventivo, pois características de personalidade, situações de perda e o tipo de relação familiar podem contribuir para o desenvolvimento da obesidade; pode-se tentar evitá-la através da intervenção precoce em casos como esses. “Vendo a história de vida dessas crianças, fica claro o quanto a parte psicológica influencia na obesidade”, ressalta. Por esses motivos, a psicóloga considera essencial a atuação do psicólogo nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs).
Estudo
Foram utilizados dois tipos de instrumentos psicológicos na pesquisa: o Procedimento de Desenhos-Estórias (D-E), em que cada criança faz cinco desenhos livres e, após, conta uma história de cada um deles e o Teste de Apercepção Temática Infantil com Figuras de Animais (CAT-A), em que o psicólogo apresenta dez pranchas com ilustrações e pede para que a criança conte uma história sobre a situação retratada na figura. Ana também entrevistou as mães das crianças, para conhecer um pouco da história de vida e do desenvolvimento da obesidade em cada caso.
A pesquisadora também ressalta a contribuição do estudo para os conhecimentos sobre a obesidade infantil. Segundo Ana, até agora são poucos os estudos dedicados a compreender a psicodinâmica da personalidade das crianças que sofrem com o problema, mesmo se tratando de um problema bastante discutido.
Fonte Uol

Por que jovens começam a beber cada vez mais cedo?

"Jovens ansiosos, deprimidos, hiperativos, com características de grande busca por novidade e, com dificuldades de evitar riscos, estão em maior risco de consumo regular e pesado de bebidas em idade precoce"
O alcool é a droga de escolha entre muitos adolescentes e a média de idade para o início do consumo tem sido mais baixa através do tempo.
Enquanto em 2003, a média de idade para o início do consumo era de 14 anos, em 1965 a média do início do consumo era de 17 anos. Quanto mais cedo é o início do consumo de bebidas alcoólicas, mais precoces são as complicações sociais, educacionais relacionadas à saúde nessa população.

Segundo dados do I Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil realizado em 2001, 48,3% dos jovens de 12-17 anos já fizeram uso na vida de álcool, ao passo que esse número atinge 73,2% dos jovens de 18-24 anos. Segundo o mesmo estudo, 5,2% e 15,5 % dos jovens de 12-17 anos e 18-24 anos, respectivamente, são dependentes de álcool.

No ano de 2005, com a realização do II Levantamento Domiciliar no Brasil, os autores constataram que o uso de álcool por jovens de 12-17 anos e de 18-24 anos foi de, respectivamente, 54,3% e 78,6% ao passo que a dependência dessa substância nesses mesmos grupos etários foi de 7,0% e de 19,2%, respectivamente.

Além do consumo de bebidas alcoólicas ser cada vez mais precoce, tem-se reconhecido que muitos adolescentes que bebem costumam beber pesadamente, comumente ingerindo cerca de 70 gramas de álcool (equivalem a umas 5 latas de cerveja) ou mais por ocasião de consumo de bebida.

Embora a diferença entre os gêneros tenha se mantido, com jovens do gênero masculino consumindo mais frequentemente e pesadamente álcool do que as do gênero feminino, essa disparidade tem se tornado cada vez menor.

Garotos e garotas têm as mesmas motivações para beber

De fato, algumas evidências apontam que os motivos atribuídos pelos jovens de ambos os gêneros para consumir bebidas alcoólicas têm sido muito parecidos.

Motivações:

- Pressão de pares;

- Necessidade de perder as inibições e aproveitar mais o tempo;

- Vontade de ficar “alto”.

Essas são as três principais razões entre homens e mulheres jovens para fazer uso de bebidas. Também, correntemente jovens de ambos os gêneros frequentam os mesmos ambientes, são menos sujeitos às críticas devido a comportamentos relacionados ao beber, sustentam crenças mais liberais e assumem plena igualdade de posições.

Ser adolescente é um fator de risco

À medida que as crianças se desenvolvem para a fase da adolescência, múltiplas modificações físicas, psicológicas e de estilo de vida acontecem. Transições no desenvolvimento têm sido associadas com o recrudescimento ou mesmo início do consumo de álcool, o que também tem sido visto na transição para a terceira idade. De qualquer forma, simplesmente o fato de ser um adolescente, pode ser considerado um fator de risco estático tanto para o início do consumo de bebidas alcoólicas quanto para o consumo pesado delas.

Principais fatores relacionados à experimentação precoce de bebidas alcoólicas:

1º) Tomada de risco

As conexões cerebrais estão em contínuo desenvolvimento nessa fase da vida, e a busca por estímulos ou sensações tem sido associada com esse fato. Para alguns adolescentes, a busca intensa por excitação ou estímulos pode incluir a experimentação de bebidas alcoólicas e as atividades associadas com esse uso. Segundo pesquisas populacionais, quanto mais precoce é o consumo regular de bebidas alcoólicas, mais cedo é o início da vida sexual, menor é o tempo dedicado aos estudos, e mais frequente é a experimentação de outras substâncias. Modificações no desenvolvimento físico, incluindo hormonais e cerebrais, podem estar relacionadas com o comportamento muitas vezes impulsivo de adolescentes.

2º) Expectativas

O modo como as pessoas enxergam o consumo de bebidas alcoólicas e seus efeitos influencia o padrão de uso. Um adolescente que espera que, ao beber, sinta-se mais descontraído, sociável, desejável em determinado grupo, fará o uso. Crenças sobre o álcool e seus efeitos são estabelecidas antes mesmo da adolescência. Comumente, antes dos 9 anos de idade, a criança tem crenças negativas a respeito do uso de bebidas; entretanto, depois dos 12 anos essas crenças mudam.

3º) Sensibilidade e tolerância ao álcool

Diferenças entre o cérebro de um adulto e de um adolescente podem explicar, pelo menos parcialmente, porque jovens conseguem consumir doses bastante altas de bebidas alcoólicas quando comparado a adultos. Também, experiências novas, influência de pares, expectativas positivas diante desse uso colaboram intensamente para o desenvolvimento de tolerância;

4º) Características de personalidade e presença de transtornos mentais

Jovens ansiosos, deprimidos, hiperativos, com características de grande busca por novidade e, com dificuldades de evitar riscos, estão em maior risco de consumo regular e pesado de bebidas em idade precoce;

5º) Fatores hereditários

Ser filho de alcoolista ou ter vários membros familiares portadores de alcoolismo coloca os jovens em maior risco de desenvolver problemas com o uso de bebidas. Filhos de alcoolistas têm risco de 4 a 10 vezes maior para manifestarem problemas com o uso de bebidas, quando comparados a jovens sem antecedentes familiares de problemas com o consumo de álcool. Também, mais recentemente, alguns genes têm sido relacionados com o desenvolvimento do alcoolismo e de comportamentos nocivos relacionados ao consumo de bebidas;

6º) Influência ambiental

Certamente, fatores genéticos sozinhos não explicam o desenvolvimento do comportamento nocivo em relação ao álcool. Influência dos colegas ou pares e pais que mantêm uma visão positiva sobre o consumo de bebidas influenciarão o uso de álcool pelos filhos.


Fonte Uol

Brinquedos do passado ensinam lições desde a infância até a vida adulta

Jogos dos anos 80 trabalham concentração, raciocínio rápido e noção de espaço

Por Camilla Rolim
 
Lego, Banco Imobiliário, Pogobol e muitos outros brinquedos dos anos 1980 animam conversas de quem passou horas se divertindo com eles e daria tudo para saber como funcionavam esses e outros passatempos comuns na infância passada. Quem sonhava em tirar a dúvida, agora tem chance: o Genius, jogo de memória e agilidade que desafiou muitas crianças, está com relançamento marcado e você já pode convidar os amigos para uma sessão nostalgia. "Existem habilidades, como o raciocínio lógico e a noção de espaço, que os brinquedos mais antigos desenvolvem com mais eficiência do que os jogos tecnológicos de hoje", afirma a professora Cristina Laclett Porto, do curso de Pedagogia da PUC-Rio. Outras opções de brinquedos nunca saíram de linha, então que tal experimentar a rapidez do seu raciocínio ou o refinamento das habilidades motoras?

Genius

Para alegria dos mais nostálgicos, o grande sucesso dos anos 1980 vai ressurgir nas prateleiras das lojas de brinquedo a partir do mês de setembro. Se você acha que aquele joguinho cheio de cores e sons só servia para confundir seu raciocínio, está muito enganado. "O Genius estimula não só a memória, mas também a coordenação viso motora (de espaço e movimentos) e o raciocínio rápido", afirma a psicopedagoga infantil Fernanda Spengler.
Lego - Foto: Getty Images

Lego

Um mundo de criações se abria para quem se aventurava com uma caixa de Lego. As pecinhas se encaixavam de várias maneiras e era possível criar desde castelos até bichos ou o que mais a sua imaginação permitisse. "Além dessa riqueza de possibilidades, as peças ensinavam à criança a ideia de tridimensionalidade, e isso é muito rico para o aprendizado", afirma a professora Cristina Laclett Porto, da PUC-Rio. A área motora também é estimulada a partir do contato com os blocos, e uma noção de projetos futuros já começa a se formar na cabeça dos pequenos.
Pogobol - Foto: Divulgação

Pogobol

"Atualmente, computador e TV tomam conta da rotina de muitas crianças, por isso que jogos e brincadeiras que estimulam a coordenação motora ampla devem ser explorados", diz a psicóloga Fernanda Spengler. Brinquedos que trabalham os músculos e transmitem noção de espaço também são essenciais para qualquer aprendizado. É nesse contexto que entra o pogobol, a engraçadíssima bola com suporte para os pés, com o qual as crianças podiam pular para onde quisessem. "Essa é uma forma divertida de gastar muita energia sem deixar de aprender o tempo todo". Outros clássicos da diversão também são muito úteis nesse sentido: elástico de pular, corda, bambolê... Vai dizer que você não se lembra de todos?
Radinho da Gradiente - Foto: Divulgação

'Radinho' da Gradiente

Este é certamente o brinquedo mais 'moderno' da lista. Entenda por modernidade a presença de um microfone e de um player que gravava e reproduzia em fitas K7, coisa que os nascidos nos anos 2000 nem têm ideia do que seja. Quem amava ficar falando por horas no aparelho, entrevistando todos os parentes ou cantando pelos cômodos da casa não devia imaginar, mas estava estimulando a espontaneidade e a imaginação que seriam muito úteis alguns anos depois. "Esta vivência podia até mesmo despertar um envolvimento com a área de comunicação, mas o maior ganho é aquele momento de diversão para a criança", afirma a especialista Fernanda Spengler.
Lousa mágica - Foto: Divulgação

Lousa mágica

Criar, errar, refazer e se divertir com esses erros. Na hora de explicar esses conceitos, há alguns brinquedos que podem ajudar. A lousa mágica é um deles: tendo a chance de escrever, desenhar e apagar tudo o que é registrado nela, fica mais fácil aprender que não há problemas em tentar de novo. "É importante que a criança aprenda que a necessidade de fazer e refazer é natural e não precisa ser considerada uma falha", afirma a especialista em educação infantil Cristina Porto. Em questão de instantes, os desenhos se transformam, também estimulando a linguagem escrita, a produção artística e habilidades manuais.
Cubo mágico - Foto: Getty Images

Cubo mágico

Há brinquedos que continuam sendo divertidos para muita gente mesmo depois da infância. É o caso do cubo mágico, que tem até torneios e campeonatos espalhados pelo mundo para gente de todas as idades. Além de colocar a cabeça para funcionar, ele ajuda a difundir conceitos como o desafio e a persistência em atividades. "Concentração, atenção e paciência são estimuladas por este brinquedo, que também exercita as habilidades motoras manuais e o raciocínio lógico concreto", diz a psicopedagoga Fernanda Spengler.
Jogo de tabuleiro Detetive - Foto: Divulgação

Jogos de tabuleiro

Com raciocínio lógico e função motora estimulados, só falta para a criança aprender a se relacionar com as outras pessoas. "Os jogos de tabuleiro são os grandes aliados na socialização e na interação, incentivando os participantes a colaborarem uns com os outros", afirma a psicóloga Fernanda Spengler. Nesse formato, há experiências de todo o tipo: Banco Imobiliário reforça a capacidade de negociação, Detetive explora o poder de observação e Jogo da Vida ensina planejamentos de longo prazo. Outras habilidades, como a avaliação das situações, a elaboração de estratégias e pensamento de hipóteses, também são estimuladas de maneira muito divertida.
Fonte Uol

Pais sofrem por não ter certeza se estão mimando os filhos ou não

Conforme as crianças crescem, estabelecer limites, rotinas e expectativas se torna mais complicado
Uma mãe me perguntou na semana passada se eu achava que ela estava mimando o filho. Era a versão típica da pergunta de consultório pediátrico: com a voz cansada e cheia de dúvidas de um parto recente, ela se questionava se estava correto pegar e amamentar o bebê chorão.
Hoje em dia, muitos pais se perguntam sobre a questão do mimo. Uma resenha recente de um livro de Elizabeth Kolbert na revista "The New Yorker" comparou, desfavoravelmente, crianças norte-americanas com as autossuficientes e competentes crianças de uma tribo da Amazônia peruana. Ela discutiu a noção de, talvez, estarmos criando uma geração que não consegue ou, pelo menos, não quer amarrar os próprios sapatos.
Uma coluna sobre criação dos filhos no "The New York Times" reconheceu que as observações de Kolbert puseram o dedo na ferida de muitos pais contemporâneos; mais recentemente, um artigo opinativo aconselhava os pais a parar de proteger os filhos de cada decepção.
Claramente, estamos vivendo outro daqueles momentos –e eles se repetem, ao longo das gerações– quando os pais se preocupam que talvez não estejam cumprindo seu papel e que a próxima geração, em consequência, corra grave perigo. Em convulsões culturais sobre o quanto as crianças são mimadas, adultos com olhar de censura lembram com carinho dos rigores de sua própria infância. Porém, muitos dos mesmos pais (e avós) que agora se preocupam integraram a geração que Spiro T. Agnew, vice-presidente de Richard Nixon entre 1969 e 1973, acusou de ter sido mimada pelo Dr. Benjamin Spock.
Na verdade, a criança cheia de privilégios e mimada demais era um personagem típico dos romances do século XIX: como governantas veteranas que presumivelmente sabiam do que falavam, as irmãs Brontë escreveram retratos poderosos de crianças mimadas mais velhas. A cultura muda, mas muitos campos de batalha permanecem os mesmos.
No consultório pediátrico de hoje em dia, os pais muitas vezes citam o mimo, como a mãe da semana passada, em referência ao sono e à alimentação dos bebês pequenos. É como se as perguntas mais desconcertantes sobre como reagir às demandas de uma criança se cristalizassem naqueles primeiros meses quando o recém-nascido chora e os pais se preocupam.
A linha pediátrica oficial –falei algo do gênero à mãe da semana passada– é que não se mima um bebê cuidando bem dele, mas nem essa resposta se revela simples. "É importante se fazer presente, ser responsivo e responsável, mas não quer dizer que se deva atender a todos os caprichos do bebê", diz a Pamela High, professora de pediatria da Universidade Brown e diretora médica da Clínica Fussy Baby, do Centro Brown para o Estudo das Crianças. "Você lhes ensina padrões, rotinas e regularidade."
Os pais podem suprir as necessidades do bebê ao mesmo tempo em que lhe dão a chance de aprender a se acalmar e dormir sem estar no colo. Num estudo aleatório sobre bebês com cólica publicado neste ano pelo grupo de High, quando os pais receberam ajuda em relação à alimentação, sono, rotina e sua própria saúde mental, os nenéns com cólica choraram menos e dormiram mais.
Conforme as crianças crescem, estabelecer limites, rotinas familiares e expectativas se torna mais complicado. Contudo, ainda é uma questão de equilibrar a gratificação imediata e lições maiores sobre a vida.
Essa também é uma área na qual ainda nos sentimos à vontade e no direito de culpar e julgar outros pais –e a nós mesmos.
Comportamentos problemáticos na infância antes atribuídos a uma criação incompetente ou destrutiva agora são compreendidos como sendo de nascença, determinados pela genética, refletindo diferenças neurológicas. Já não culpamos uma má criação pelo autismo ou pelo Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Entretanto, a palavra "mimado" evoca traços e comportamentos aos quais rapidamente atribuímos a responsabilidade dos pais. Como Roald Dahl escreveu em 1964, em "A fantástica fábrica de chocolate", "uma menina não pode mimar a si mesma, não é?".
Mark Bertin, pediatra especializado em desenvolvimento e comportamento, de Pleasantville, Nova York, ligado à New York Medical School, vê uma ampla gama de crianças com problemas de comportamento, distinguindo as contribuições do sistema neurológico, do temperamento e do estilo da família.
Embora o estilo de educação seja difícil de estudar, ele cita um acervo de pesquisa que, de forma crescente, sugere que a criança se beneficia com estratégias para a formação do autocontrole e da capacidade de recuperação emocional.
"Estamos falando de crianças educadas sem limites. Todos nós queremos que nossos filhos sejam felizes o tempo todo, mas existem capacidades que são aprendidas quando se cresce com limites e a oportunidade de vivenciar a frustração."
Os desafios de falar não e de estabelecer limites para os pais de crianças pequenas costumam girar em torno de comida, sono e acesso à mídia. "Ao estabelecer limites, nós lhes estamos ensinando quais são nossos valores e a forma pela qual pensamos que podem ter uma vida mais produtiva e feliz", diz Pamela High.
Com outras crianças, entramos na questão de possuir coisas. "Quando penso em mimar, estamos falando em atenção e em coisas", afirma High. "Não creio ser possível mimar com excesso de atenção ao que seus filhos estão fazendo, pensando ou sofrendo, mas creio que, às vezes, é necessário ser cuidadoso em relação às coisas."
Não é preciso ser rico para encher uma criança de coisas. E oferecer artigos que substituam a atenção dos pais é particularmente problemático. A criança com um televisor enorme no quarto e acesso irrestrito a todos os tipos de telas é muito mimada ou muito negligenciada?
Não sei dizer se as crianças de hoje em dia são mais mimadas ou se mais crianças são mimadas. Existem diferenças reais na criação ao longo do tempo, algumas refletindo as trajetórias maiores de abundância e tecnologia presentes na cultura. Porém, também existem os períodos recorrentes de autoanálise e autocrítica que refletem o envolvimento adulto com a paternidade ou a maternidade. Seja qual for a geração, responder aos desejos e necessidades das crianças enquanto tentamos lhes ensinar lições que irão lhes robustecer a personalidade é uma missão complicada. Às vezes, independentemente do que façamos, metemos os pés pelas mãos.
Fonte Uol

Livro para Criança: Eu falo Sim

Uma criança numa escola pode comunicar-se com os colegas de um jeito diferente? Tomás e seus amigos acham que sim.
O livro Eu falo sim apresenta a história de inclusão escolar do pequeno Tomás. Junto com ele, a turminha que o acompanha na escola aprende junto diferentes e novos jeitos de se comunicar e de se relacionar.
Com uma abordagem pedagógica diferenciada, a Intervenção Comportamental e a utilização do PECS funcional, o envolvimento de todos inevitável e um grande desenvolvimento torna-se possível.
Baseado em uma história real, foi escrito pela pedagoga e mestre em Educação Silmara Rascalha Casadei e a fonoaudióloga Vera Mendes Bailão (USP) e conta com as ilustrações de Marilei Moreira Vasconcellos Fernandes, mãe do Tomás, a fonte inspiradora da história.
Eu falo sim traz a beleza da diversidade humana e as variadas possibilidades de expressões que, ao se conectarem compreensivelmente, descobrem que a linguagem que aproxima os diferentes é a linguagem do amor.

Pais mais velhos têm mais chances de passar mutações nocivas aos filhos

Pesquisa mostra que, quanto maior a idade do pai, maiores as chances de ele transmitir mutações genéticas prejudiciais aos filhos, como as responsáveis pelo autismo e esquizofrenia
Estudo publicado nesta quarta-feira na revista Nature mostrou que a idade em que um pai tem seu filho pode influenciar no número de mutações genéticas que a criança vai herdar. Quanto mais velho ele for, maiores as chances de seu esperma carregar mutações que podem desencadear doenças como autismo e esquizofrenia.
A pesquisa foi conduzida por cientistas da deCODE Genetics, empresa dedicada ao estudo genético da população da Islândia. Eles analisaram as informações genéticas de 78 famílias, todas compostas por pai, mãe e filho. Desses filhos, 44 tinham autismo, e 21, esquizofrenia. Os pesquisadores procuraram por mutações no DNA das crianças que não estavam presentes em nenhum dos pais e deveriam ter surgido espontaneamente.
Ao analisar os resultados, os pesquisadores descobriram que os pais transmitiram quatro vezes mais mutações que as mães. A média foi de 55 mutações paternas contra 14 maternas. Segundo os pesquisadores, isso acontece porque o esperma é produzido continuamente ao longo da vida, pela divisão sucessiva das células reprodutivas. A cada divisão, elas podem adquirir novas mutações. As mães, ao contrário, já nascem com a quantidade de óvulos que vão usar por toda a vida.
O estudo também mostrou que o número de mutações passadas de pai para filho crescia conforme a idade paterna, numa média de duas novas mutações a cada ano de vida. Segundo os pesquisadores, um pai de 36 anos passaria a seu filho o dobro de mutações que um de 20 anos. Já um pai de 70 anos, passaria oito vezes mais.
Estilo de vida — Algumas das mutações genéticas identificadas pelos cientistas haviam sido relacionadas por outros estudos a condições como autismo e esquizofrenia. Por causa disso, uma das hipóteses levantadas pelos pesquisadores é que a idade cada vez maior em que os homens se reproduzem pode ser uma das causas do aumento do número de crianças com autismo nos Estados Unidos.
Na própria Islândia, a idade média em que os homens têm filhos aumentou de 28 para 33 anos entre 1980 e 2011. Nesse período, segundo o estudo, o número de mutações transmitidas para as crianças subiu de 60 para 70. Os cientistas destacam, no entanto, que a grande maioria dessas mutações não causa nenhum tipo de dano. Na verdade, algumas delas podem até trazer vantagens evolutivas.
Fonte Veja

Maconha na adolescência reduz a capacidade intelectual

Pesquisa divulgada nos Estados Unidos registrou uma queda de oito pontos no QI de usuários que começaram a fumar a droga antes dos 18 anos de idade
Fumar maconha regularmente durante a adolescência reduz a capacidade intelectual de forma permanente na vida adulta, aponta uma pesquisa publicada nesta segunda-feira nos Estados Unidos.

O levantamento comparou o quociente intelectual (QI) de mil neozelandeses aos 13 anos e aos 38, incluindo fumantes regulares de maconha e não usuários. Entre os usuários que começaram a fumar na adolescência -- com o cérebro ainda em desenvolvimento -- e continuaram com o hábito até a fase adulta, houve uma queda de oito pontos no QI. Já entre os não usuários, o QI subiu até um ponto. "Em média, o QI deve permanecer estável à medida que a pessoa envelhece", explica a responsável pela pesquisa Madeline Meier, psicóloga da Universidade de Duke.

A queda do QI não foi atribuída a diferenças na educação ou por abuso de outras substâncias, como álcool e outras drogas, destacou Meier.
Os que começaram a fumar maconha na adolescência também registraram piores resultados em testes de memória, concentração e raciocínio rápido. Os que abandonaram a maconha ou reduziram seu uso até um ano antes do teste dos 38 anos apresentaram os mesmos déficits intelectuais.
Período vulnerável - Por outro lado, os usuários que começaram a fumar maconha na idade adulta -- após os 18 anos -- não tiveram sua capacidade intelectual reduzida. "A adolescência é um período particularmente vulnerável no desenvolvimento do cérebro", destacou a pesquisadora. Os jovens que começam a fumar cedo "podem estar interrompendo processos normais chave para o cérebro", e de forma permanente.
Meier especula que um estudo mais aprofundado pode ajudar a determinar se abandonar a maconha por mais de um ano permitiria "recuperar a capacidade" intelectual. "Não estudamos isto, mas é definitivamente possível", concluiu ela.

Fonte Veja

Já pensou se todo mundo torcesse pelo mesmo time

Pequena reportagem sobre tolerância e respeito às diferenças, baseada no livro JÁ PENSOU SE TODO MUNDO TORCESSE PELO MESMO TIME de Almir e Zilda Del Prette.


O livro é indicado como entretenimento para crianças de todas as idades mas é também útil para pais e professores que podem usá-lo como recurso educativo para ensinar valores às crianças.
 

Ele é o rei da casa. Adivinha quem são os súditos?


Talvez a maior dificuldade na educação de crianças e adolescentes seja o estabelecimento de limites. Nesse contexto, alguns pais vivenciam os dissabores diante das restrições, muitas vezes acreditando que ao frustrar seus filhos estão fracassando enquanto pais, ou mesmo acreditando que dizer “sim” pode evitar sofrimento diante dos limites do mundo. Ambientes com excesso de facilidades e escassez de exigências comumente são contextos que favorecem o surgimento de comportamentos de difícil manejo que se agravam com o decorrer do tempo, podendo levar ao desenvolvimento de transtornos comportamentais.
Decerto que cuidar é uma tarefa prazerosa. Porém, também se torna árdua quando os responsáveis precisam lidar com certos eventos, como os gritos, o choro, a desobediência, a oposição e a resistência infantil. Todos esses comportamentos são previstos quando se estabelece regras e limites. Embora as crianças tenham vivenciado suas limitações físicas diante de um novo comportamento (como andar), as primeiras experiências de frustrações nas relações sociais são singulares. Sua importância se dá pelo fato de proporcionar o contato com algo inevitável: as regras sociais e os limites nas relações interpessoais. Aproximar-se desse contexto é fundamental e, quanto antes isso ocorrer, mais adaptativo será o comportamento social.

No entanto, lidar com a resistência infantil por vezes é tão aversivo que os pais agem de forma a evitar a birra e o choro. Assim, facilitam atividades diárias, são permissivos (ou como dizem “deixam à vontade”), diminuem ou extinguem as exigências, concedem o que a criança pede (mesmo o desejo não sendo permitido ou desejável), cedem a birras (trocam o “não” pelo “sim”), entre outros.
Cabe destacar que os jovens de hoje estão inseridos em uma cultura onde tudo é acessível: a informação está por todos os lados, o contato com a tecnologia diminui os esforços físicos e cognitivos, a sociedade em que estão inseridos valoriza e favorece o consumo e os bens acabam se tornando descartáveis, dispensando a necessidade de conservação. Ao passo disso, os cuidadores vivenciam a rotina de trabalho excessiva, que favorece o distanciamento físico e afetivo deles em relação aos filhos. Trata-se de um contexto bem diferente das gerações anteriores, que pregavam o esforço e o merecimento, pré-requisitos para que objetivos e a sobrevivência pudessem ser atingidos.

Alguns pais – movidos pela culpa diante da ausência no cotidiano dos filhos – realizam concessões que podem prejudicar a aprendizagem de regras culturais e morais importantes. Há quem acredite que dizer “não” é prejudicial por impor sofrimento à criança e que permitir é proporcionar a felicidade e a adequação social. Porém, em relacionamentos paternos em que prevalecem concessões excessivas (sem critérios e sem limites), os papeis são invertidos: quem dita a ordem é a criança, e o pai é quem obedece.

Assim, a criança vive um reinado em que tudo é possível, bastando pedir, sinalizar um desejo discretamente ou mesmo impondo sua vontade. Os pais acabam se submetendo à sua vontade, seja “visando a sua felicidade” ou mesmo para evitar o sofrimento das crianças diante das limitações vitais. Eles se transformam em súditos também para evitarem a própria sensação de fracasso em não poderem realizar o desejo do filho. Eis então que paira um questionamento: se não é possível uma vida sem frustrações, como prepará-los para o mundo se os pais buscam proporcioná-los apenas êxitos?
Ao contrário do que se pensa, frustração não é algo de adulto ou de perdedor. Caso os pais não estabeleçam limites quando necessário, a tolerância à frustração infantil não será desenvolvida adequadamente, de modo que a criança terá dificuldades em aceitar as restrições que a própria vida impõe, apresentando respostas emocionais e comportamentos desadaptativos. Além disso, é possível que o infante sofra rejeições sociais, pois nas brincadeiras em grupo não apresentará “espírito esportivo”: será o responsável pelas regras do jogo, competindo e desejando apenas vitórias. Quando estas não forem possíveis, a criança poderá agir de forma agressiva ou mesmo apresentando trapaças para evitar fracassos. Ao contrário do que podem pensar os pais, estabelecer limites não é ser cruel ou proporcionar infelicidade. Na verdade, as crianças ficam até mais felizes e seguros ao saberem do que se espera deles e de quais caminhos precisam trilhar para obterem êxitos.

Embora haja aqui uma ênfase no estabelecimento de limites, de forma alguma há a recomendação de severidade nos cuidados. Os extremos são igualmente nocivos ao desenvolvimento infanto-juvenil. A ausência de regras e limites favorece o surgimento de padrões comportamentais desafiadores e opositores, falhas no desenvolvimento pessoal e social, além de desenvolver comportamentos antissociais (delinquência juvenil, psicopatias e sociopatias) e aditivos (uso de drogas). Ao passo disso, padrões autoritários já são responsáveis por outros prejuízos, como níveis significativos de ansiedade, humor deprimido, baixa autoestima e estresse. O ideal seria o estabelecimento de regras e limites juntamente com o afeto, de modo equilibrado. Vejamos.
Antes de tudo, a família deve entrar em um consenso quanto aos limites a serem ensinados. Estes se referem ao que é permitido e o que não pode ser feito, quais as regras que regem aquela família e quais valores devem ser cultivados. Nesse delineamento, é importante que sejam consideradas a cultura, as peculiaridades daquela família e a idade dos filhos. Quando os pais conseguem estabelecer acordo quanto aos limites é mais fácil de haver consistência e, consequentemente, aprendizagem dos filhos.
O próximo passo é apresentá-los à criança/ adolescente, por meio de uma conversa, descrevendo claramente as consequências caso haja descumprimento das regras. É válido não só descrever os limites, mas lembrá-los periodicamente para que possam ser mantidos. O uso de uma linguagem adequada, clara e concisa se faz necessário para assegurar compreensão e aumentar a probabilidade de obediência.
Após o “acordo”, é necessário que os pais ajam com consistência e firmeza. Se a regra foi estabelecida e não é possível modificá-la, é importante não hesitar diante da resistência infantil. Os filhos conseguem identificar quando uma regra pode ser quebrada, testam os limites dos pais diante de suas resistências. Identificando que um “não” pode se transformar em “sim”, e tendo a hipótese comprovada, se torna mais provável que haja resistências no seguimento de regras na próxima oportunidade. Se isso ocorrer de forma crônica, a regra perde o seu efeito e quem as dita em casa é a criança, ao invés dos pais. Cabe ressaltar que as regras também podem ser modificadas, conforme a avaliação da família. Se uma regra não está sendo cumprida, algo não ficou bem estabelecido: ou ela é inadequada àquele momento ou a criança não entendeu, necessitando de revisão.
As consequências diante do respeito aos limites estabelecidos e do descumprimento também são dignas de discussão. Ao mesmo tempo em que as consequências precisam ser adequadamente apresentadas diante de regras burladas, o cumprimento das mesmas devem ser seguidas de consequências positivas, seja com elogios, atenção ou uma recompensa. Estas medidas simples tem resultado mais efetivo e menos danoso que as punições diante do comportamento inadequado.
Além disso, cabe ressaltar que os pais também devem fornecer o modelo em seguir regras. É incoerente cobrar obediência a elas se os pais burlam normas familiares ou sociais, desejando que apenas o comportamento verbal seja seguido pelos filhos ao invés daquele que emite (o observável). Verbal ou motor, o comportamento é emitido pelo mesmo modelo, fator que denota a relevância de ambos para a aprendizagem.
Na orientação clínica diante de limites, é comum que os pais retruquem que é fácil falar sobre isso, mas que é difícil fazê-lo. Muitos já tentaram, mas diante das dificuldades, desistiram. Percebe-se uma série de padrões comportamentais dos pais que interferem no estabelecimento de limites, como a intolerância à frustração, o déficit no repertório de habilidades sociais (sobretudo quanto a negar pedidos), e crenças desadaptativas que associam amor a superproteção e liberdade à permissividade. Cabe a cada pai avaliar seu repertório e, diante das dificuldades, procurar ajuda profissional. Muito provavelmente esses padrões aparecem não só no relacionamento com os filhos, mas em outros âmbitos, o que torna a psicoterapia válida pois abrangerá não só um âmbito da vida (paternidade/maternidade), mas a vários (relacionamento conjugal e profissional, por exemplo).
E retomando ao título do texto, o interessante é que não haja castelos, reis e súditos. O que a criança precisa é de um lar como ele é: com segurança, mas também vulnerabilidades. Que haja proteção, mas não em demasia. Ela precisa de pais, não de reis invulneráveis e absolutos (e tampouco ditadores). A liberdade é desejável, mas as restrições são necessárias. A criança necessita, sobretudo, que os pais mostrem as regras do jogo chamado “vida”: viver é lutar, gozar de ganhos, mas também é lidar e aceitar as perdas e limitações.
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Juliana de Brito Lima é Psicóloga (CRP 11ª/05027), formada pela Universidade Estadual do Piauí e especializanda em Análise Comportamental Clínica pelo Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento – IBAC. É membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental – ABPMC e Psicóloga do Centro Integrado de Educação Especial – CIES e da Clínica Lecy Portela, em Teresina-PI. Tem experiências acadêmicas (linha de pesquisa “Desenvolvimento da criança e do adolescente em situações adversas” do Núcleo de Análise do Comportamento da Universidade Federal do Paraná/ NAC-UFPR) e profissionais na área clínica (atendimento a criança, adolescente e adulto), jurídica e educação especial, na orientação de pais.
Fonte: Instituto de Psicologia Aplicada - InPA
Telefone - (61) 3242-1153

A hora certa de falar sobre drogas

Psicólogas orientam pais a abordar o tema antes da pré-adolescência para evitar acesso a informações distorcidas.




Antes de conversar, os pais devem estar seguros em relação
à forma de abordagem e, principalmente, ao conteúdo abordado

A maioria dos pais teme que seus filhos tenham experiências com drogas. Apesar disso, o consumo de substâncias ilícitas ainda é visto como um tabu por muitas famílias, que não sabem como, quando e de que forma falar sobre esse assunto com crianças e adolescentes. Psicólogos recomendam uma conversa aberta, franca e esclarecedora para evitar que o herdeiros tenham acesso a informações distorcidas e acabem seguindo modelos equivocados.

Segundo a psicóloga e psicopedagoda Carina Paula Costelini, de Londrina, não existe uma idade certa para falar de drogas com os filhos. ''Entretanto, é importante que isso aconteça antes da pré-adolescência, pois é nesse momento que provavelmente a criança terá acesso a essas informações em outros contextos. É sempre melhor garantir que as informações sejam passadas pelos pais do que correr o risco que cheguem de forma distorcida à criança'', aconselha.
Carina recomenda ainda que os pais fiquem atentos e busquem responder as curiosidades demonstradas pelos filhos em qualquer faixa etária. ''Antes de conversar, os pais devem estar seguros em relação à forma de abordagem e, principalmente, ao conteúdo abordado. Se ainda têm dúvidas sobre o assunto, precisam pesquisar, conversar com profissionais, enfim, buscar as respostas para todas as possíveis dúvidas que surgirem, como por exemplo: quais tipos de drogas existem, de que forma são consumidas, quais os efeitos imediatos e posteriores'', enfatiza a psicóloga.

A psicóloga e mestranda em Análise do Comportamento, Simone Oliani, também de Londrina, alerta para o fato de que a maioria dos adolescentes está mais informada sobre o assunto do que seus pais, mesmo não sendo usuários. ''Por isso, amedrontar os filhos com histórias macabras e fazer terrorismo focando com exagero nos efeitos das drogas são comportamentos infrutíferos'', afirma.
 
Simone ressalta que os pais devem iniciar o trabalho preventivo a partir dos 6 anos. ''Quando a criança inicia o ciclo da educação básica já é capaz de compreender melhor. Entretanto deve-se respeitar as particularidades de cada faixa etária e começar a prevenção pelo álcool e tabaco, que são drogas lícitas. Há uma pesquisa holandesa que afirma os adolescentes tendem a beber menos quando os pais impõem regras mais severas sobre o consumo de álcool'', destaca.
 
De acordo com ela, os pais não devem deixar o trabalho de educação e prevenção para a igreja e a escola e podem falar sobre drogas mais pesadas a partir dos 14 anos. ''Entre 10 e 12 anos, as crianças apresentam pouca curiosidade sobre as drogas. Nesta idade devemos fortalecer fatores de proteção ao uso como relações familiares afetivas, de intimidade e de segurança. Já aos 14 anos, os adolescentes têm habilidade de analisar mais criticamente algumas ideias e entender todo o contexto das drogas. Nesse momento os pais podem fazer referências a maconha, cocaína, crack e outras substâncias abertamente'', orienta.

Fonte: Instituto Innove

Exposição precoce à anestesia pode prejudicar cognição de crianças

Pacientes que são submetidos à anestesia antes dos três anos enfrentam mais problemas relacionados à linguagem e ao raciocínio ao longo da infância

Uma nova pesquisa mostrou que crianças que são expostas à anestesia antes dos três anos de idade, mesmo que somente uma vez, têm um maior risco de apresentar dificuldades de raciocínio e problemas de linguagem ao longo da infância. Segundo os autores do estudo, porém, essa conclusão não deve assustar os pais e fazer com que eles evitem a qualquer custo submeter seus filhos à anestesia. “Se as crianças precisam de uma cirurgia, é preciso colocar na balança os riscos e os benefícios do procedimento”, diz Lena Sun, anestesiologista da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, e uma das autoras do trabalho.

Esses resultados, publicados nesta segunda-feira na revista Pediatrics, foram baseados nos dados de aproximadamente 2.900 crianças que estavam inscritas em um levantamento nacional da Austrália. Os participantes realizaram testes de raciocínio, linguagem, memória e interpretação de texto quando completaram dez anos de idade. Eles também responderam a questionários sobre saúde emocional para que os pesquisadores observassem se havia incidência de problemas como depressão e agressividade.

O estudo concluiu que as crianças que haviam sido expostas à anestesia para uma cirurgia ou um exame diagnóstico antes dos três anos de idade cometeram o dobro de erros de linguagem e tiveram mais dificuldade em resolver problemas do que as outras. Não foi encontrada nenhuma relação entre as anestesias e problemas de comportamento, de atenção ou de e habilidades motoras.
Para os pesquisadores, é preciso cuidado ao analisar esses dados, já que outros fatores podem contribuir para essa relação. Por exemplo, crianças que foram expostas à anestesia nos primeiros anos de vida e que, portanto, precisaram passar por alguma cirurgia, podem apresentar outras condições médicas que prejudiquem o desenvolvimento cerebral de alguma forma. No entanto, como os procedimentos observados pelos participantes do estudo foram menores (circuncisão, remoção das amígdalas e procedimentos odontológicos, por exemplo), é possível que a anestesia seja a principal causadora desses problemas cognitivos, explicam os autores.



Fonte Veja

Sacrificar o sono para estudar mais piora desempenho acadêmico

O ideal é manter um mesmo horário dedicado ao estudo todos os dias e aproveitar ao máximo as horas em que fica na escola.


Uma nova pesquisa da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos, mostra que passar noites em claro para estudar mais não dá resultado. Alunos que dormem pouco em véspera de prova, por exemplo, apresentam um desempenho acadêmico pior. Esse efeito, segundo os autores do estudo, ocorre independentemente do quanto o jovem se dedica aos estudos no dia-a-dia

Isso não quer dizer, porém, que um aluno deva estudar menos para se sair melhor na escola. “O sucesso acadêmico depende de estratégias que evitem o sacrifício do sono. É preciso manter um mesmo horário dedicado ao estudo todos os dias e aproveitar ao máximo as horas em que fica na escola”, afirma Andrew Fuligni, um dos autores do estudo, que foi publicado nesta segunda-feira no periódico Child Development

De acordo com os resultados, a capacidade cardiorrespiratória, que é desenvolvida com atividades aeróbicas, como correr, andar e nadar, foi o fator mais fortemente associado a um melhor desempenho acadêmico — embora as outras características físicas também tenham sido relacionadas a bons resultados na escola. As conclusões foram semelhantes para ambos os sexos. Para os pesquisadores, o estudo reforça a ideia de que a atividade física melhora a memória, a concentração e a organização de uma pessoa — e deve incentivar os pais a incluírem algum tipo de exercício na rotina de seus filhos.

Fonte Veja

Por que crianças têm dificuldade de compartilhar

Estudo sugere que o ambiente onde os pequenos vivem e a educação que recebem são decisivos para aperfeiçoar a sociabilidade
© Oleinikova Olga/Shutterstock

A recusa em emprestar brinquedos ou dividir alimentos pode resultar de conexões neurais imaturas. Um estudo publicado na revista Neuron revela que a interação de centros de controle de impulsos é mais frágil em crianças pequenas e tende a se intensificar com o passar dos anos, na mesma medida em que elas aprendem e colocam em prática estratégias sociais.

Cientistas do Instituto Max Planck de Ciências Cognitivas e do Cérebro, na Alemanha, observaram crianças de 6 a 10 anos e pré-adolescentes tomando decisões simples durante um jogo. Eles deviam dividir fichas que valiam pontos (e prêmios) com um receptor anônimo em duas situações: escolher aleatoriamente quanto ceder sem nenhuma consequência e correr o risco de ter sua oferta recusada se a outra criança a achasse injusta – nesse caso, nenhuma das duas ganharia nada. Ou seja, a segunda tarefa exigia maior habilidade social.

Todos os participantes se comportaram de forma semelhante na primeira situação. Na segunda, porém, os mais jovens fizeram ofertas piores e se revelaram mais propensos a aceitar poucas fichas mesmo percebendo que era injusto. Neuroimagens captadas durante o experimento revelaram menor atividade no córtex pré-frontal, centro de tomada de decisões e autocontrole, das crianças mais novas. Estudos anteriores apontaram que menor atividade nessa região está associada a habilidades sociais menos aprimoradas.

Os autores do estudo sugerem que o ambiente onde a criança vive e a educação que recebe podem ser decisivos para aperfeiçoar a sociabilidade e o controle de impulsos nesse período de amadurecimento neural.

Reflexão

O assunto é mesada...

Entrevista concedida pelo Prof. Hélio Guilhardi à Revista Integra



1) Como os pais devem proceder quando os filhos lhes pedem dinheiro? Dar o dinheiro à medida que vão aparecendo as necessidades ou estipular um valor a ser dado mensal ou semanalmente?

H Lidar com dinheiro faz parte de uma aprendizagem abrangente que envolve as maneiras de manejar os múltiplos aspectos da vida, o que extrapola, portanto, a especificidade dos aspectos financeiros ou econômicos. Por essa razão, a relação que os pais desenvolvem com seus filhos, ao estabelecer as práticas do uso de dinheiro, pode ser muito educativa. Assim, para dar um exemplo, se o filho pede dinheiro para comprar um sorvete durante um passeio, o pai pode lhe dar o dinheiro, dizendo a ele: “Tome esta nota de dez reais. Mas vamos antes comigo até a livraria e depois você compra seu sorvete. Aproveite e compre também um ‘sonho de valsa’ para sua irmã. Fique esperto porque ainda vai sobrar troco”. Com essas instruções, o pai estará ensinando os seguintes aspectos fundamentais para o desenvolvimento sadio do filho:

- controlar a impulsividade e aumentar a tolerância à frustração, uma vez que o dinheiro está disponível para comprar o sorvete, mas o filho deve fazer alguma coisa antes, o que atrasará o acesso imediato à gratificação;
 
- pensar no outro e fazer alguma coisa em benefício do outro, no momento em que o pai o lembrou de que a irmã gosta de bombom, dando-lhe um modelo de cooperação e de ficar atento aos interesses, desejos, necessidades etc. do outro;

- desenvolver sentimento de responsabilidade, pois lembrou ao filho que haverá sobra do dinheiro e, sem dirigi-lo diretamente, poderá observar e intervir, se necessário, na iniciativa do filho de devolver o troco, que pertence ao pai;

- desenvolver sentimento de autoconfiança, ao organizar uma situação na qual o filho fará várias atividades sem ajuda do pai, tais como: escolher o sorvete, solicitá-lo à atendente, comprar o bombom, pagar, aguardar e conferir o troco etc., o que envolve tomar iniciativa, assumir a decisão de uma escolha, interagir socialmente, vencer a timidez etc.

Se este tipo de preocupação estiver presente na interação entre pais e filhos, desde muito cedo na vida da criança, partindo de situações simples, compatíveis com as habilidades atuais da criança, esta se sentirá competente e protegida. Aos poucos, o filho irá generalizando e ampliando para novas situações o que aprendeu e sentiu, sem necessidade de qualquer tipo de orientação direta, aprimorando seu desenvolvimento afetivo e comportamental. Respondendo diretamente à pergunta, enfim, os pais devem atender inicialmente às necessidades imediatas da criança, mas com a preocupação de proporcionar o desenvolvimento de autocontrole. Isso poderia ser feito dando uma quantia maior de dinheiro para o consumo planejado e moderado de alguns dias e, a partir daí, ir aumentando gradualmente as exigências que irão aprimorando passo a passo o autocontrole.

2) Quando os pais optam por dar a mesada aos filhos, como ela deve ser encarada por ambos os lados? Obrigação dos pais? Merecimento dos filhos? Ou apenas um instrumento de educação financeira?

H A mesada não deve ser enfocada como uma interação especial entre pais e filhos, diferente de outras interações. É obrigação dos pais pagarem o médico, a escola, a roupa, a comida dos filhos? Esses itens raramente são questionados, pois fica claro que se os pais não assumirem essas responsabilidades haverá danos para ambos os lados. Pais e filhos devem compartilhar direitos e obrigações: cada qual deve dar o melhor que puder e, se não for possível dar, isso deve ser explicitado sem nenhum sentimento de culpa ou de incompetência. Há alguns parâmetros para guiar o ato de dar. A doação deve envolver o amor agápico, aquele amor em que meu maior bem é o bem que produzo para o outro. Deve envolver reciprocidade: quando uma pessoa aprende apenas a receber e não é ensinada a dar, torna-se egoísta e tem dificuldade para reconhecer, espontaneamente, o bem que vem recebendo; diz-se que é ingrata. Os pais devem ensinar os filhos a retribuir, a ter a iniciativa de dar e não, simplesmente, esperar que tais comportamentos surjam naturalmente. Mais que isso, devem ensinar aos filhos que devem dar não apenas para aqueles de quem receberam algo. O ato de dar deve ser por amor e cooperação e não por dever; assim também retribuo o bem que recebi de alguém, fazendo o bem para um outro alguém qualquer. A doação deve envolver limites: quem recebe tudo o que deseja e de imediato, se torna impulsivo, consumista compulsivo e terá enormes dificuldades para lidar com o “não”, com limites, com conseqüências gratificantes que só aparecem a médio ou a longo prazo. A criança deve ouvir “sim” e “não” e deve também aprender a dizer “sim” e “não”. A mesada não é obrigação dos pais; não é direito dos filhos. É uma forma de interação — em particular, envolvendo dinheiro —, na qual aquele que tem dá (os pais, no exemplo) — dentro de certos limites - o que o outro (o filho, no caso) não tem, para benefício deste, sem prejuízo para nenhuma das partes envolvidas. O filho, por sua vez, sempre terá algo a dar para seus pais: um sorriso, um abraço, uma conduta equilibrada, um ato de cooperação, amostras de um desenvolvimento sadio etc., simplesmente porque isso tudo se pode dar por amor, por respeito, por gratidão aos pais. Nunca por obrigação, nem só por dever.

3) Seria interessante estabelecer um “pagamento” por atividades consideradas positivas pela família dentro do lar, como por exemplo, arrumar o quarto, manter os brinquedos em ordem etc? Ou o dinheiro da mesada deve ser dado independentemente da realização dessas tarefas?

H Independentemente. O lar é um contexto de vida e de interação entre todos. Não há patrão, nem empregado. As responsabilidades, os deveres, assim como os prazeres, devem ser compartilhados de maneira cooperativa e harmoniosa, cabendo a cada um fazer aquilo que está dentro de suas possibilidades e desejos. No entanto, meus desejos não podem reinar soberanos, pois há o risco de prevalecer o egoísmo e a prepotência. Meus desejos devem ser limitados pelos desejos do outro que convive comigo. O diálogo pode gerar acordos harmônicos para benefício de todos. Mesada não é salário por tarefa realizada. Mas as tarefas devem ser realizadas... por todos, mesmo reconhecendo que algumas podem ser desagradáveis para mim. Mas podem ser indesejadas para o outro também. A mesada deve ser vista como um instrumento para o filho ter acesso a coisas, eventos, situações que são importantes para o seu desenvolvimento pessoal; para dar acesso a um livro, a um filme, a uma viagem, a uma festa, a uma roda de amigos, a um encontro com a namorada etc. e não como instrumento de prepotência, de exibição e de exercício de poder. Isso também vale para os pais: o dinheiro que eles entregam ao filho não deve ser um instrumento de coerção, de domínio, de opressão.

4) Uma vez que tenham optado pela mesada, a entrega do dinheiro é suficiente para uma boa educação financeira? Ou os pais devem aproveitar essa situação para educar os filhos quanto ao valor do dinheiro, quanto ao uso parcimonioso, quanto à sua destinação?

H As respostas anteriores esclarecem a questão. Mas volto a insistir que o dinheiro é instrumento de poder num sentido amplo. Às vezes, o uso parcimonioso do dinheiro, que aparentemente indicaria um equilíbrio na esfera financeira, pode ser uma estratégia para acumular bens e mais dinheiro, para usá-los como instrumento de poder e de opressão. O fato de o dinheiro ser instrumento de poder não significa que ele deva ser usado para oprimir. Além disso, o poder pode - e deve – ser usado para o meu bem e para o bem daqueles que me cercam. Os pais devem sim ensinar seus filhos a observarem as suas necessidades e a tentarem supri-las; mas devem também ensiná-los a ficar atentos às necessidades dos outros e a tentar supri-las. Este raciocínio não se aplica estritamente ao uso do dinheiro. O uso do dinheiro pode ser visto como uma metáfora de tudo aquilo de que uma pessoa é capaz. Todas as minhas capacidades devem estar a meu serviço e a serviço daqueles que me são relevantes. Ter dinheiro é apenas um dos itens – aliás, nem o mais relevante -, para nos capacitar a lidar com a vida.

5) A mesada deve ser dada a partir de que idade? E a educação financeira? Deve começar a partir de quando?

H O mais cedo possível, a criança deve entrar em contato com as relações de troca e, quando possível, estas devem ocorrer de forma consciente. Quando uma mãe brinca com seu filhinho bebê durante o banho e este ri com os afagos, já há uma troca. A passagem para as trocas que serão mediadas pelo dinheiro ocorrerá num momento além. Não há idade específica para ensinar o uso do dinheiro, pois esse uso ocorrerá normalmente durante o processo de desenvolvimento da criança. Quando dou uma bala para meu filho e digo que deve chupá-la só após o almoço, estou ensinando uma relação equivalente a dar-lhe uma moeda e dizer-lhe para aguardar o momento apropriado para gastar. Devo dar a bala e devo dar a moeda, como devo dar um brinquedo, um livro, um passeio no bosque etc. e, com tudo isso, ensino alguns conceitos básicos da vida. Quando programo com meu filho, na 2a feira, que irei levá-lo ao bosque no sábado, estou lhe dando algo: meu amor, uma promessa, uma esperança, uma visão antecipada de um programa gostoso... Tudo isso ele guardará e virá a usufruir com moderação, mas com entusiasmo, dias depois. Não é análogo a ter, guardar e usar no momento oportuno? A própria criança acaba fazendo a passagem de um nível de interação vivencial para outro nível. Informações específicas – como usar um cartão de crédito, como aplicar algum dinheiro, como controlar a conta bancária -, quando o filho for mais velho, serão aprendidas facilmente, quando os comportamentos básicos já estiverem devidamente instalados. Não se aprende a lidar bem com o dinheiro repentinamente, sem uma base de formação que ensinou a pessoa a lidar bem com as múltiplas facetas da vida: moderação, cooperação, autocontrole, respeito ao próximo etc.

6) A criança ou o adolescente deve participar da elaboração do orçamento familiar? Em que medida?

H A criança e o adolescente devem participar de quaisquer problemas ou planos familiares. Os filhos são parte funcional da família e não apêndices, que só são acionados em momentos específicos, ou quando os assuntos são “para crianças”. Há pais que dizem que nunca brigaram diante dos filhos. “Sempre nos trancamos no quarto, para discutir nossas diferenças”, costumam dizer. Seria ingênuo imaginar que as portas e paredes não têm ouvidos infantis nessas ocasiões e que os sentimentos e percepções dos filhos estão adormecidos. Todo problema ou plano familiar deve ser compartilhado por todos da família, mantidas, por certo, limitações inerentes às faixas etárias. Isso é verdade se os problemas forem moderados. Se as desavenças e problemas são agudos, então os próprios pais devem procurar ajuda profissional específica para o problema e não envolver e nem usar os filhos durante os conflitos. Os filhos, às vezes, têm importantes sugestões para encaminhar problemas, que os adultos não conseguem desvendar (não foi uma criança que gritou no meio da multidão: “O rei está nu?”). Além disso, em situações difíceis, os pais sentem-se aliviados sabendo que os filhos conhecem as dificuldades em curso, e não precisam usar o recurso da farsa: “Nada de preocupante está ocorrendo!”

7) Até que ponto os pais devem interferir na forma como o dinheiro da mesada está sendo gasto? Se os filhos quiserem fazer algo com o dinheiro com o qual os pais não concordem – comprar cigarros ou bebidas alcoólicas, por exemplo – como eles devem proceder?

H Os pais não devem ser cúmplices daqueles desvios dos filhos, que podem acarretar, a médio ou a longo prazo, prejuízos drásticos para estes. Há outros desvios também graves, mas que não aparecem de forma tão clara. Assim, por exemplo, os avanços tecnológicos determinam muitos comportamentos e sentimentos humanos, sem que as pessoas se dêem conta disso. A produção de bens de consumo descartáveis (“use e jogue fora”; “troque logo o modelo – de carro, de computador etc. -, pois o seu já está ultrapassado”; “é mais barato comprar um novo relógio do que pagar o conserto” etc.) interfere na vida cotidiana de maneira tão sutil e desastrosa, que as pessoas passam a lidar umas com as outras como se fossem bens de consumo a serem usados e, em seguida, postos de lado, como produto descartável. Os pais devem estar atentos a esse tipo de problema e lembrar-se de que o dinheiro facilita o envolvimento com tal estilo de desumanização do homem. Assim, se o dinheiro está sendo usado com bebidas ou drogas, casos extremamente preocupantes, retirar a mesada ou reduzi-la drasticamente pode ser uma alternativa, mas não basta. Há necessidade de um conjunto de medidas de intervenção para se obter um bom resultado “terapêutico”. Já ocorreram outros erros no passado, na interação pais-filhos, que ultrapassam a questão da mesada e da quantia de dinheiro disponibilizado. E esses erros provavelmente continuam ocorrendo. Há necessidade de avaliação e orientação profissionais mais profundas sobre o que está ocorrendo. Por outro lado, quando não se está falando de problemas graves – como álcool e droga - é de se esperar que os filhos tenham preferências e hábitos diferentes daqueles apresentados pelos pais. É preferível, por parte dos pais, maior tolerância; afinal, os filhos não têm que ser como eles querem que os filhos sejam. Permitam, os pais, que os filhos ensaiem seus vôos e aprendam com as conseqüências de seus atos. Um grupo homogêneo na forma de agir, pensar e sentir se condena à própria degradação. A evolução de uma comunidade, pequena como uma família ou extensa como uma nação, será mais saudável e sólida se houver heterogeneidade entre os membros que a compõe.

8) É correto os pais darem palpites sobre a compra – com o dinheiro da mesada, evidentemente - de produtos que julguem supérfluos ou desnecessários?

H Se dar palpite não significar “impor”, não vejo problemas. Os filhos podem saber o que os pais pensam sobre a vida, sobre as atividades dos filhos etc. Esse diálogo é importante porque, através dele, podem ocorrer influências recíprocas: os filhos podem ponderar os argumentos dos pais e concordar ou discordar. Da mesma maneira, os pais podem aprender melhor as razões dos atos dos filhos. Influência recíproca não significa opressão. Humildade para aprender com o outro é louvável e não uma fraqueza. Ceder é uma forma de aprofundar as relações, desde que a concessão não seja hipócrita, nem por fraqueza. Neste caso não haveria autenticidade na relação. É preferível saber o que o outro pensa e como ele agirá – mesmo que se possa discordar dele – do que ser iludido por palavras doces que se quer ouvir, mas que omitem a realidade.